
Rondó da Liberdade
February 14, 2025 at 11:53 AM
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14 de fevereiro de 1956, tem início o XX Congresso do PCUS
“Na URSS, o XX Congresso do PCUS abre-se com a leitura do estarrecedor informe secreto sobre as atrocidades cometidas sob a direção de Stalin. E com um chamamento ao fim de 30 anos de autoritarismo e culto à personalidade. Ao mesmo tempo, os soviéticos alteram suas formulações teóricas e políticas, e propõem ao movimento comunista internacional que busque a revolução através de caminhos pacíficos.
Estávamos Renée e eu, em Moscou, participando de um curso de formação política. Pudemos sentir entre os professores o clima de reavaliação crítica e autocrítica que se iniciava. Convivemos, portanto, de certa forma, com a preparação do XX Congresso. Por coincidência, estávamos também os dois iniciando nossa quebra particular do culto à personalidade. O que era relativamente fácil para Renée e seu espírito aberto, de agudo senso crítico e, não raro, cáustico. Não o era para mim que guardava uma visão idealizada da URSS - o socialismo já construído, em transição para sua fase superior, o comunismo - e dificuldades em ver o socialismo realmente existente - autoritário, sem democracia nem direitos humanos, com profundas deformações políticas, econômicas e sociais.
(…) De volta ao Brasil, encontro o partido imerso numa profunda crise política, que terminará ocasionando sua primeira grande cisão. Aturdida, a organização está paralisada. A direção sonega qualquer informação sobre o Informe Secreto. É pela imprensa tradicional que os militantes tomam conhecimento de seu conteúdo, cuja veracidade as direções se recusam a confirmar. A indignação tantos anos represada explode; jornalistas e intelectuais abrem, na marra, na Voz Operária, do PC, o debate sobre o estalinismo e suas repercussões na organização e na política do partido.
A comissão executiva, profundamente dividida, acaba elaborando um primeiro documento. Ele faz ressalvas ao Informe Secreto e à nova orientação política proposta pelo XX Congresso. Esse documento, todavia, terá ainda de ser submetido, como de praxe, ao comitê central. Boa parte de seus membros estão nesse momento no exterior: são todos convocados com urgência.
Nesse ínterim, a minoria antes derrotada na comissão executiva elabora um segundo documento alternativo - um endosso absoluto aos novos rumos propostos pelo PCUS. E é ele que será adotado na tão esperada reunião de agosto do comitê central. Metade da comissão executiva é afastada de suas funções.
Seis meses depois, a Declaração Política de Março de 1958 avaliza as novas opções. É o abandono da tática insurrecional propagada nos manifestos de janeiro de 1948 e agosto de 1950; e a defesa da via inédita, do caminho pacífico da revolução. No V Congresso, o comitê central sustentará essas mudanças e sugerirá, para sua aplicação, uma força social sui generis — pela primeira vez, num documento do PCB, inclui-se a burguesia nacional entre as forças revolucionárias”, Apolônio de Carvalho em “Vale a Pena Sonhar”.