O silêncio caiu entre eles como um véu leve, confortável. Só se ouvia o eco distante do fim da festa — gargalhadas rareando, música se apagando aos poucos — misturado ao coaxar dos sapos e ao canto rítmico das cigarras, vindos do rio que corria não muito longe dali. "Ele me deu um fora, Ramon." A confissão veio repentina, cortando o ar morno da noite. A voz de Tulipan saiu baixa, mas firme. Ramon desviou o olhar das árvores, surpreso com a sinceridade do amigo. Seus ombros se retesaram por um segundo, mas ele não disse nada — apenas escutou. "Mas tá tudo bem…" Tulipan continuou, forçando um sorriso fraco, como se quisesse fazer as palavras parecerem verdade. "Ele só… me disse umas verdades cruéis. Coisa leve. Final da noite, já superei." Tentava brincar com a própria dor, segurando sua taça ainda cheia como um escudo, enquanto os olhos buscavam consolo no céu. Uma estrela cadente cruzou o firmamento, e ele a seguiu com o olhar, como se desejasse que levasse embora também aquele gosto amargo. "Eu… sinto muito por isso." disse Ramon por fim, virando o corpo na direção de Tulipan. Havia gentileza em seu tom, mas também algo contido — ele sabia que compaixão demais poderia quebrar a muralha frágil que o outro tentava erguer. "Tá tudo bem" repetiu Tulipan, com os olhos ainda presos no céu. "Não precisa ter pena de mim." E então, num gesto quase teatral, deu o primeiro gole da bebida, como se estivesse decidido a se anestesiar da realidade — ou ao menos se igualar ao estado lamentável de Margaret. "Só não exagera na bebida, Pan." provocou Ramon com um sorriso torto, o tom leve, carregado de quem já testemunhou Tulipan bêbado e nunca esqueceu o espetáculo. "Você também, Mon." Tulipan rebateu com a mesma ironia afetuosa, arqueando uma sobrancelha. Eles riram juntos — daquela risada sincera que não apaga a dor, mas a afasta por um instante. Depois, brindaram em silêncio, deixando o som dos grilos e das estrelas escorregando pelo céu preencher o que as palavras já não conseguiam.