"Eu só não consigo entender por que o Margaret daria um fora num garoto tão… gente boa como você." Disse Ramon, com a voz carregada de uma frustração mansa, como quem realmente queria uma explicação lógica para o inexplicável. Tulipan soltou um riso curto, irônico, e, com um leve movimento, deu um tapinha no ombro largo de Ramon — que era pura rocha, músculo bruto sob o tecido do paletó. Um gesto pequeno, quase fraterno, mas cheio de ironia. "Não começa com esse papo lamecha pra cima de mim, não." Retrucou, virando os olhos de forma teatral. "Se quer me consolar, pelo menos finge que tá do meu lado… mas não vem com esses elogios como se fossem verdade." Ramon sorriu, baixando os olhos para o chão como se o comentário o tivesse pegado de surpresa — ainda que não fosse a primeira vez que Tulipan reagia daquela forma. Era um ritual quase silencioso entre eles: ele tentava consolar, Tulipan desconfiava, mas no fundo aceitava. Por um instante, o silêncio voltou. As risadas da festa agora eram ecos distantes, engolidos pelo vento morno da noite. As lágrimas que antes marcavam o rosto de Tulipan começaram a secar com a brisa suave, e, pela primeira vez naquela noite, ele se permitiu um sorriso mais honesto. Um sorriso calmo, tranquilo… como se a simples presença de Ramon lhe devolvesse um pouco do eixo. "Tudo o que eu digo é verdade… aos meus olhos. " Murmurou Ramon, com a sinceridade de quem não busca convencer, apenas afirmar. "Não teria motivo pra mentir pra você. Mas tudo bem se você não quiser acreditar." Ele levou a taça aos lábios e bebeu mais um gole, sem tirar os olhos do céu. Tulipan desviou o olhar por um momento, pensativo. Era verdade: Ramon sempre aparecia nesses momentos. Nunca foi um amigo íntimo, daqueles que sabiam tudo da sua vida — mas estava lá, nos piores dias, com palavras simples e uma presença que fazia tudo parecer menos doloroso. E, por algum motivo, ele sempre arranjava um jeito de soltar um elogio, mesmo que disfarçado de comentário bobo. E Tulipan, mesmo reclamando, nunca o impedia.