
Æternus ☩
June 8, 2025 at 05:59 PM
Quando a crise protestante explodiu na Alemanha, a Igreja escolheu um Papa virtuoso e reformador para suceder Leão X. Este novo Papa teria a difícil missão de pôr freio à desordem generalizada, celeiro de cismas e heresias. Seu nome era Adriano VI.
Em 3 jan. de 1523, os Príncipes Alemães reuniram-se (na chamada Dieta de Nuremberg) para discutir a crise luterana. Para ela, o Papa Adriano VI enviou por seu Núncio e Legado, Francesco Chieregati, uma mensagem a ser lida aos Príncipes.
É um documento muito profundo que, a meu sentir, todo católico de boa vontade deveria ler e meditar, pois diz muito sobre nossa época.
"Deves [dirige-se o Pontífice ao Núncio Chieregati] dizer também que reconhecemos livremente haver Deus permitido esta perseguição a sua Igreja, por causa dos pecados dos homens, e especialmente dos Sacerdotes e Prelados, pois de certo não se encurtou a mão do Senhor para nos salvar, mas são nossos pecados que nos afastam dEle, de modo que não ouve as nossas súplicas. A Sagrada Escritura anuncia claramente que os pecados do povo tem origem nos pecados dos sacerdotes, e por isto, como observa Crisóstomo, nosso Divino Salvador, quando quis purificar a enferma cidade de Jerusalém, dirigiu-se em primeiro lugar ao Templo, para repreender antes de tudo os pecados dos sacerdotes. E, nisso, imitou o bom médico, que cura a doença em sua raiz. Bem sabemos que, mesmo nesta Santa Sé, ha já alguns anos vem ocorrendo muitas coisas dignas de repreensão. Abusou-se das coisas eclesiásticas, quebrantram-se os preceitos, chegou-se a tudo perverter. Assim, não é de espantar que a enfermidade se tenha propagado da cabeça aos membros, desde o Papa até aos Prelados. Nós todos, Prelados e Eclesiásticos, nos afastamos do caminho reto, e já há muito não há um que pratique o bem. Por isso devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em sua presença. Que cada um de nós considere porquê caiu, e se julgue a si mesmo, ao invés de esperar a justiça de Deus no dia de sua ira. Por isto, (igualmente) deves tu prometer em Nosso Nome que estamos resolvidos a empregar toda a diligência a fim de que, em primeiro lugar, seja reformada a Corte Romana, da qual talvez se tenham originado todos esses danos. E, acontecerá que, assim como a enfermidade por aqui começou, também por aqui comece a saúde. Nós nos consideramos tanto mais obrigados a levar isto a bom termo, quanto todo o mundo deseja semelhante Reforma. Porém, não procuramos Nossa Dignidade Pontifícia, e de mais bom grado Teríamos terminado na solidão da vida privada nossos dias. De bom grado teríamos recusado a Tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o perigo de um cisma nos determinaram a aceitar o Supremo Munus Pastoral. Em consequência, Queremos Exercê-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga formosura, prestar auxilio aos oprimidos, elevar os varões sábios e virtuosos, e genericamente fazer tudo o que compete a um Bom Pastor e Sucessor de São Pedro. Não obstante, que ninguém se surpreenda, se não corrigirmos todos os abusos de um só golpe, pois as doenças estão profundamente enraizadas e são múltiplas. Pelo que é preciso proceder passo a passo, e opor primeiramente os oportunos remédios aos danos mais graves e perigosos, para não perturbar todas as coisas ainda mais a fundo, por meio de uma precipitada Reforma. Com razão diz Aristóteles que toda mudança repentina é muito perigosa para uma sociedade."
*— PASTOR, Ludwig von. Historia de Los Papas Vol. IX - En La Época del Renacimiento y de La Reforma, Desde La Elección de León X Hasta La Muerte de Clemente VII. p. 107-109. 4. ed. Barcelona: Calle Universidad, 1911*

❤️
1