
Nathy Tarot
June 16, 2025 at 04:25 PM
Proza com o Orixá
Uma vez, um amigo me mostrou
um vídeo de um batuqueiro,
chimarrão na mão,
sentado em frente ao Pai Bará Lodê.
Na hora, eu calei.
Não soube o que dizer.
Mas hoje…
Hoje eu entendo melhor do que nunca
a grandeza desse gesto tão simples e tão sagrado.
Perdi as contas de quantas vezes
sentei na frente do meu Pai Xapanã
com a cuia cheia e o peito também.
Bati proza com ele,
coloquei ele na ponta da mesa do café da tarde
e agradeci pela fartura.
Reclamei, confesso,
quando o mundo pesou demais
mas nunca escondi nada.
Fui transparente.
Mostrei minhas falhas,
meus gritos contidos,
minha revolta às vezes muda.
Porque aqui no batuque em que me criei,
no Rio Grande do Sul que me formou,
Orixá é pai.
É mãe.
É amigo.
É ombro, ouvido e força.
É quem nos vê 24 horas por dia
por dentro e por fora.
Aprendi com meu pai de santo,
Pai Paulo de Xangô,
que mesmo ele, com seus tantos anos de santo,
ainda repete:
“Só sei que nada sei.”
E eu?
Menos ainda.
Mas sei que não sou perfeita,
e nunca precisei fingir ser.
Meu Pai Xapanã sabe de tudo antes de eu abrir a boca,
mas mesmo assim, eu falo.
Desabafo.
Choro, agradeço, me entrego.
Se eu pudesse,
tomaria um chimarrão com cada Orixá.
Sentaria com Bará e falaria das dores do mundo.
Conversaria com respeito,
com amor e com verdade.
Porque louvar o sagrado
é também saber ser íntimo dele.
É saber que Orixá é força da natureza
e também colo quente nas tardes frias.
É saber que ele guia, ensina e corrige,
mas também acolhe e compreende.
Então experimente:
Prepare seu café da tarde,
chame seu guia,
converse com seu Orixá.
Com respeito, com devoção
mas com verdade, como se fala com quem se ama.
Porque Orixá também é amigo,
é casa, é raiz.
É quem fica
quando o mundo vai embora.
— Texto autoral (Nathy Tarot)
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