
pratica_filosofica - Boletim mais ou menos diário
February 23, 2025 at 05:38 PM
*O que outro título "ad hitlerum" poderia escamotear?*
Não será nesse post que abre uma série de sabe-se lá quantos episódios que tu o saberás.
Nesta "abertura da série", te apresentarei o tal argumento tecido, dessa feita por Rui Tavares, ex-deputado europeu, articulista com espaço semanal no jornal da rua Barão de Limeira, que, no seu último artigo, "Munique é berço de traição da Europa e de seus ideais, como foi com Adolf Hitler" _[18/02/2025, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/rui-tavares/2025/02/munique-e-berco-de-traicao-da-europa-e-de-seus-ideais-como-foi-com-adolf-hitler.shtml, caminhão russo passando na casa do meu primo deixou cair aqui o teu exemplar do artigo: https://t.me/pratica_filosofica/225]_, aproxima três situações espaciais que inscrevem Munique como relevante para análise política europeia
A primeira é a negociação em 1938: Neville Chamberlain e Hitler negociando parte da Tchecoslováquia em nome da paz na Europa.
A segunda: em 2007, Vladimir Putin anuncia o fim da ordem internacional imposta unilateralmente pelos EUA, mas interesses comerciais falaram mais alto; desde então, *Ações de Putin*: 2008, invade a Geórgia; 2014: anexa a Crimeia; 2022: quer chegar em Kiev em três dias, mas enfrentou resistência.
A terceira: começo de 2025, na mesma Conferência de Segurança Munique, o vice-presidente estadunidense anuncia aos europeus condições para a paz na Ucrânia mais perniciosas ao país que as impostas à Alemanha após sua derrota em 1918,
Aqui vem o elemento que torna indicável esse artigo como ponto de partida. Até essa altura do texto, nada há nele que merecesse mais que meia linha como remissão a equívoco que deu crias.
Mas eis que lemos, como reação à descompostura que deixou toda a cúpula eurocrata desnorteada, algo como uma análise da conjuntura geopolítica, seguida de uma proposta, proposta sim que aí o "diferencia" da vala comum dos autoenganos europeísta-atlantistas.
Após inferir que União Europeia e EUA não são mais aliados, após atribuir à Otan, visando talvez ignorá-la, o reles significado de "construção meramente teórica", vem o que merece destaque finalmente, a tal d' *a proposta*: uma Comunidade Europeia de Defesa, mediante retomada do projeto derrotado em 1954 no Parlamento francês.
Só assim para evitar que Putin invada a Europa, ou melhor, nas palavras do "ex-deputado europeu": "a contagem decrescente para a próxima guerra na Europa começa no dia em que Putin não estiver mais atolado na Ucrânia".
Antes de acabar esse primeiro episódio da série, um esclarecimento: "Reductio ad Hitlerum" é o nome de uma falácia, aquele argumento psicologicamente convincente mas inconsistente logicamente, e que uma vez identificado impede que se possa tratar sua conclusão, aquilo de que nos quer convencer, como se tivesse valor de verdade "verdadeiro".
Essa locução nominal "reductio ad Hitlerum", é uma criação do filósofo de ultradireita Leo Strauss para designar argumentos que associam algo (aquilo que o argumento quer desqualificar) ou diretamente à pessoa do Hitler ou ao nazismo sob sua direção. O objetivo seria tornar repulsiva a posição posta, mediante tal associação, em relação de analogia com algum dos traços do nazismo trazido pelo argumento.