
pratica_filosofica - Boletim mais ou menos diário
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About pratica_filosofica - Boletim mais ou menos diário
Desde fins de 20/8/2024, tb no Telegram, https://t.me/pratica_filosofica por Gilberto Tedeia, no mundo do trabalho alguém que mexe com filosofia, psicanálise sobretudo lacaniana e certa "teoria crítica brasileira" A proposta aqui é a socialização de rascunhos de ideias às voltas com aparências sociais contraditórias, mais doses de algo brejeiro, cuja leveza atenue a angústia diante do deserto do real Aos 5 leitores: a periodicidade é "elástica", mais ou menos diária
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*Das coincidências de datas históricas aleatórias: dezenove de fevereiro* *1997*: morre Deng Xiaoping. Em 12/1978 lança as bases do capitalismo de Estado atualmente em vigor por lá, que seus defensores chamam de "socialismo com características chinesa" ou coisa parecida. É dele a frase "não importa a cor do gato, desde que cace os ratos" que ilustra a sua "economia de mercado socialista". *2008*: renúncia de Fidel Castro, que esteve à frente da Revolução desde a tomada do Quartel de Moncada, em 26/7/1953. Faleceu aos noventa anos, em 2016. Nem China nem Cuba acabaram com a troca de comando. Tampouco seguiram o que foram nos anos 60 ou 80. Mas relaxe, baby, das coisas que mudaram para pior, o destaque segue sendo o da gestão amadora do futebol brasileiro pelos caciques dos times e pelos estafetas das "instituições" locais que formam a correia de transmissão do crime organizado que vai da Fifa às federações estaduais dos cafundós amazônicos, no colo do presidente de uma das tais, a paraense, caiu o cargo de presidência da CBF quando o titular eleito para o cargo tanto aprontou que acabou perdendo a boquinha.


Único erro da matéria: não foi *questionamento* em 2013, e sim uma constatação negociada: alguém que não duraria muito foi "escolhido", coroando assim o processo de dupla negociação, processo que começou lá atrás, quando escolha de Ratzinger. A negociação foi com o grupo do cardeal Martini, o candidato mais forte e que preferiu esse caminho, e acertou as duas sucessões, com hipótese de renúncia de Francisco sobre a mesa aliás, visando assim evitar que voltasse o poder para as mãos da quadrilha, digo "Estado Profundo Vaticano" responsável pelo cancro maligno que foi o reinado do anãozinho polonês, aquele que de tanto se curvar aos poderes terrenos deixou de fora o cofrinho. Fato é que nos dois últimos mandatos a quadrilha foi combatida, levemente pelo alemão e com mais força pelo argentino. Felizmente ele teve tempo de renovar o colégio dos cardeais. Com ascensão de visada teológica protomedieval cristã ao primeiro plano com o vice-presidente estadunidense, Vance, e seu bilionário de estimação que o carrega no bolso, ops, digo, o empresário americano, ativista político e filantropo que o financia, Peter Thiel, não seria difícil aos EUA colocarem outro cadelinho na cadeira papal se Martini não tivesse cuidado de lidar, lá quando da nomeação de Bento XVI, como modo de lidar e confrontar a "banda podre" vaticana como horizonte norteador de ação da Igreja pelas décadas seguintes. Afinal, nunca foi o amadorismo de cadelinhos que fez uma empresa conseguir se manter à tona por mais de dois mil anos, não mesmo. Esses, os cadelinhos, chegam latem, brandem motosserras, se pintam de laranja, masturbam-se delirando alguma coisa grande again, mas os séculos os devoram sob montanhas de entulhos de lixos análogos tão sem-nome e sem vida própria quanto esses cadelinhos que por ora arranham nossos tímpanos. https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2025/02/17/internado-com-infeccao-papa-perdeu-parte-do-pulmao-ha-mais-de-60-anos.htm

*Das coincidências de datas históricas aleatórias: vinte e uns de fevereiro* *21/02/1848*, a formulação do espectro da revolução dos que nada terão a perder exceto seus grilhões: é lançado, a insistentes pedidos da militância, a mais conhecida versão de manifesto que se tem notícia, o Comunista. *21/02/1972*, a espectro da luta de classes, como o ser em Aristóteles, se diz de múltiplas maneiras. Nixon visita a China, e tem início passagem do bastão ao novo hegemón nas relações abstratas produtoras de mais-valor. A derrota é tamanha, a do mundo do trabalho, que, em *22/02/1980* tinha início a longa trajetória, ainda em curso, do "maior partido dos trabalhadores do Ocidente", cuja festa de 45 anos teve como destaque entre oradores seu mais longevo cacique, Lula, o único bom de votos na legenda aliás, e ele sabe disso. Sendo assim, como um excurso, *fiquemos no Manifesto Comunista*, tendo por companhia algumas ideias de Arantes publicadas em "Nem tudo que é sólido desmancha no ar, Revista Estudos Avançados, v.12, n.34, set-dez 1998, baixe aqui: https://t.me/pratica_filosofica/221, publicado em uma edição especial da Revista do IEA aquando dos 150 anos do Manifesto. Aqui estamos naquela obra em que toda a história é história da luta de classes, porque ela é sempre a mesma: pré-história, cifra da modernidade movida por destruições próprias de um sistema marcado pela proletarização dos pobres, submetidos à tirania do assalariamento, servindo de carne e alimento do processo de acumulação de capital, processo cujo fim único é acumular mais capital. Ainda assim, temos nesta obra algo de otimismo, que é a proposta de uma outra humanidade que consiga quebrar o feitiço da alienação. Para tanto, era necessário um desenho do que havia de inovador na modernidade capitalista, seu impacto nas formas de legitimação social, os mecanismos de reprodução social postos em marcha pelo capitalismo, sob o qual tudo que é sólido desmancha se no ar. Como colocar um Ponto Final? Por um projeto emancipatório que faria girar a manivela e finalmente poderíamos entrar na história, este girar da manivela é o processo conhecido como luta de classes que aposta na emancipação da humanidade. Em contraponto a esta marcha, temos o estado de barbárie da sociedade burguesa, suas guerras de extermínio, a redução dos indivíduos à fome, o reconhecimento portanto de dois campos sociais antagônicos, campos marcados pela dominação sem sujeito da sociedade pela economia de mercado. Cabe ao proletariado a vontade e o poder de construir um outro sistema que não seja apenas a dominação de homens sobre homens, que não funcione somente a favor dos dominantes, ainda que o trabalho de parto desta nova sociedade seja previsivelmente doloroso. É uma obra que traz um diagnóstico do capitalismo marcado pela autorreflexão da espécie humana, reflexão que os 30 Anos Dourados do pós-guerra europeu anestesiou, mas que as catástrofes que se seguem nas quatro últimas décadas exigem lembrar que o alarme soado pelo manifesto comunista continua soando, sinal de alarme que talvez “desperte a humanidade do pesadelo ancestral da dominação”. Fim do excurso. *_Mas e os peronistas que tu falou com a data dos 45 anos atrás?_* *Se nem eles se entendem, quem sou eu para opinar a respeito*

*dormindo com o inimigo, parte 001* _Amazon deixa explícito que os e-books do Kindle não te pertencem; entenda_ *âmbito estadunidense* _o novo aviso da Amazon sobre licença de uso de e-book: “ao fazer o pedido, você está comprando uma licença de conteúdo e concorda com os termos de uso da Loja Kindle”_. *âmbito brasileiro* _Na versão brasileira da Loja Kindle, um texto pouco explicativo e prolixo._ _no meio do artigo 1, sobre o Conteúdo Kindle: o conteúdo Kindle é apenas licenciado pela Amazon, não vendida por ela ... ~resumindo o dito sem o abuso juridicizante:~ ... se o acordo da big tech com uma editora ou autor acabar, você perde o acesso._ _... a Amazon não é a única companhia que pode tirar um conteúdo digital “comprado” por você. Teoricamente, lojas de games podem fazer o mesmo com seus jogos — isso é mais provável de ocorrer com lojas das próprias desenvolvedoras_ https://tecnoblog.net/noticias/amazon-deixa-explicito-que-os-ebooks-do-kindle-nao-te-pertencem-entenda/

*Das coincidências de datas históricas aleatórias: dezoito de fevereiro* Irrelevância ao comum dos mortais, em 1930 é descoberto Plutão. 2010. Bradley Manning, analista de inteligência do exército estadunidense, repassa centena de milhares de documentos secretos a um site que começa a soltar em 18/2/2010, como faria com qualquer outro depois de "filtrado", o material repassado pelo tal analista do exército, com prova de crimes cometidos, dezenas de milhares deles. E nesse dia de 2010, de uma hora pra outra, torna-se mundialmente conhecido o WikiLeaks.com, por meramente publicar o que receba. Desde então, (1) Bradley virou Chelsea; (2) Julien Assange amargou 14 anos de [xilindró ou, de ago.2012 a abr.2019, refugiado na embaixada equatoriana] e (3) política estadunidense mundo afora se reduz cada vez mais a "desce o porrete", estreando com tudo a versão Pau-no-Lombo-Amigo – _plá_, aos íntimos, _versão Mega-plá_, sabor Laranjão.


*_Aguentando o rojão_* [19/02/2025, Passa Palavra] _Sala dos professores, sete horas da manhã de uma quinta-feira comum, uma professora chega para a outra e diz: —“Não estou nada bem hoje. Meu remédio da manhã acabou e esqueci de comprar. Estou descompensada.” — “Não amada, não pode! Você vai ficar muito mal. Pede para fulano, ele começou a tomar um igual ao seu. — “Fulano, não estou bem. Estou sem o meu remédio da manhã.” —“É para já! É Vanlafaxina né?” —“Poxa, não. Esse é o que o meu marido toma. Eu preciso de Desvenlafaxina. Uma outra professora, vendo a conversa, fala baixo: — “Esses eu não tenho, mas se vocês quiserem eu estou vendendo caixas de Centralina; é que minha médica trocou minha medicação e eu já havia comprado esses caixas. Uma das professoras responde: — “Poxa, não tomo esse, mas acho que a fulana toma. Espera. Fulana, vem cá.”_

*O que outro título "ad hitlerum" poderia escamotear?* Não será nesse post que abre uma série de sabe-se lá quantos episódios que tu o saberás. Nesta "abertura da série", te apresentarei o tal argumento tecido, dessa feita por Rui Tavares, ex-deputado europeu, articulista com espaço semanal no jornal da rua Barão de Limeira, que, no seu último artigo, "Munique é berço de traição da Europa e de seus ideais, como foi com Adolf Hitler" _[18/02/2025, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/rui-tavares/2025/02/munique-e-berco-de-traicao-da-europa-e-de-seus-ideais-como-foi-com-adolf-hitler.shtml, caminhão russo passando na casa do meu primo deixou cair aqui o teu exemplar do artigo: https://t.me/pratica_filosofica/225]_, aproxima três situações espaciais que inscrevem Munique como relevante para análise política europeia A primeira é a negociação em 1938: Neville Chamberlain e Hitler negociando parte da Tchecoslováquia em nome da paz na Europa. A segunda: em 2007, Vladimir Putin anuncia o fim da ordem internacional imposta unilateralmente pelos EUA, mas interesses comerciais falaram mais alto; desde então, *Ações de Putin*: 2008, invade a Geórgia; 2014: anexa a Crimeia; 2022: quer chegar em Kiev em três dias, mas enfrentou resistência. A terceira: começo de 2025, na mesma Conferência de Segurança Munique, o vice-presidente estadunidense anuncia aos europeus condições para a paz na Ucrânia mais perniciosas ao país que as impostas à Alemanha após sua derrota em 1918, Aqui vem o elemento que torna indicável esse artigo como ponto de partida. Até essa altura do texto, nada há nele que merecesse mais que meia linha como remissão a equívoco que deu crias. Mas eis que lemos, como reação à descompostura que deixou toda a cúpula eurocrata desnorteada, algo como uma análise da conjuntura geopolítica, seguida de uma proposta, proposta sim que aí o "diferencia" da vala comum dos autoenganos europeísta-atlantistas. Após inferir que União Europeia e EUA não são mais aliados, após atribuir à Otan, visando talvez ignorá-la, o reles significado de "construção meramente teórica", vem o que merece destaque finalmente, a tal d' *a proposta*: uma Comunidade Europeia de Defesa, mediante retomada do projeto derrotado em 1954 no Parlamento francês. Só assim para evitar que Putin invada a Europa, ou melhor, nas palavras do "ex-deputado europeu": "a contagem decrescente para a próxima guerra na Europa começa no dia em que Putin não estiver mais atolado na Ucrânia". Antes de acabar esse primeiro episódio da série, um esclarecimento: "Reductio ad Hitlerum" é o nome de uma falácia, aquele argumento psicologicamente convincente mas inconsistente logicamente, e que uma vez identificado impede que se possa tratar sua conclusão, aquilo de que nos quer convencer, como se tivesse valor de verdade "verdadeiro". Essa locução nominal "reductio ad Hitlerum", é uma criação do filósofo de ultradireita Leo Strauss para designar argumentos que associam algo (aquilo que o argumento quer desqualificar) ou diretamente à pessoa do Hitler ou ao nazismo sob sua direção. O objetivo seria tornar repulsiva a posição posta, mediante tal associação, em relação de analogia com algum dos traços do nazismo trazido pelo argumento.

quando *_"nem a mãe reconhece o filho feio"_*, que dizer? eis a velha mudança de orden$ da matriz na a$$i$tência a vento$ ideológicos abrindo nova$ frente$ rumo a novo$ mare$, hein?


_Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) nos faz saber que *799,6 milhões de pares de sapatos foram destinados ao mercado interno nacional ano passado*._ _*Setecentos e noventa e nove milhões*, outros 97,2 milhões foram destinados à exportação._ _O incremento da demanda doméstica impulsionou a produção de calçados em 3,5% ante índices produtivos de 2023._


*Porque os preços do ouro deviam subir – mas não sobem* *– Por que o preço do ouro tem aumentado tão rapidamente, batendo recordes?*, uma entrevista com Michael Hudson. antes de mais nada, um adendo: é um autor ligado à Teoria Monetária Moderna (MMT), e o que ele diz dela joga por terra pretensões de brasileiros de ex-querda de liberar impressão de real para fazer caixa e produzir superávits ficais etc. E sabe o porquê? Porque só vale para "moeda fiduciária" lastreada em si mesma, ou seja, para o dólar. O que vamos descobrir nesse post é que a "maquininha de fazer dinheiro" que permitiu certa vez, e por décadas, a "América grande lá no outrora", não é bem o que nos ensinaram na escola. E que o fim do padrão-ouro não foi o "liberou geral" que desde então "parece" ser a regra. É um texto de 19 páginas, em formato de entrevista, nada muito complicado de acompanhar. A certeza que fica: *a casa tá caindo*, a incerteza não é sobre o "se", o seu como também está dado, e é sobre ele que a entrevista se detém mais tempo, e o que resta por definir, tarefa do "mundo e economia reais", é o "quando". O economista Michael Hudson trata do papel do ouro no sistema financeiro internacional, especialmente nos últimos 70 anos, sob dominância dos Estados Unidos, sobretudo por conta dos ajustes institucionais de governança monetária global no pós-IIGM. Não foram os belos, vamos dizer, olhos da Marilyn Monroe, nem o gel no cabelo do Kennedy, e sim o ouro que foram alavanca de poder pelo qual os EUA se impuseram sobre o resto do planeta. Ouro cotado de 1933 até fim do padrão-ouro em 35 dólares por onça, tendo-se de pagar 25% do valor do papel-moeda em ouro caso portador assim o desejasse. Pois bem: há um mecanismo que aparentemente vigorou nesses anos 70, que era considerar uma paridade imaginária dólar-ouro, ouro como "reserva" a subir ou descer em alinhamento com a inflação na economia real. Tem mais: desde 1971, EUA + Inglaterra fazem dobradinha para manter o preço do ouro lá embaixo. A citação a seguir é longa, mas é melhor do que resumido: Depois de 1971", _O preço do ouro subiu muito rapidamente para cerca de 700, 800 dólares por onça. Depois, finalmente, em meados da década de 2010, para os 1200, 1400 dólares, subindo gradualmente_ (...) _Quando temos momentos de altas taxas de inflação – por exemplo, após a pandemia de Covid, quando a economia reabriu em 2022, a inflação dos preços ao consumidor foi muito alta nos Estados Unidos e em muitos países, devido às interrupções na cadeia de abastecimento._ _Assim, à medida que a inflação aumentava em 2022, podia ver-se que, em outubro, o preço do ouro rondava os 1 600 dólares, tendo aumentado substancialmente para quase 2 000 dólares na primavera de 2023._ _O que aconteceu depois foi que, no início de 2023, a inflação atingiu o seu pico e o preço do ouro desceu, à medida que a inflação descia, porque é obviamente visto como uma proteção contra a inflação, pelo que faz sentido que tendam a mover-se em conjunto._ _No entanto, aconteceu algo muito estranho. Em outubro de 2023, o preço do ouro atingiu um mínimo de cerca de 1 850 dólares e, desde então, a inflação dos preços no consumidor tem continuado a cair. Mas essa relação quebrou-se e, em vez disso, o preço do ouro disparou mais mil dólares para cerca de 2 900 dólares._ Ou seja: descolou. E de tal modo que subiu mil dólares em menos de quatro meses. Eis que o mecanismo de compra de títulos do Tesouro dos EUA por outros países deixou de ser "a via natural" do rebanho global tangido pelos movimentos especulativos EUA+ING no mercado de aluguel de ouro. Os realinhamentos geopolíticos e econômicos estão permitindo surgir a suspeita: e se os cofres ingleses e estadunidenses simplesmente não tiverem o ouro que alegam ter, e que ninguém, sequer um senador dos EUA libertário de ultradireita, Ron Paul, é permitido "constatar in loco que existe"? Assim, o cenário de manipulação do preço do ouro pelos bancos centrais, especialmente pelos EUA e Reino Unido, com suas vendas a descoberto e leasing de ouro, visando impor e manter um preço artificialmente baixo, tendo por meta garantir a hegemonia do dólar nas trocas internacionais *pode estar com os dias contados?* Uma geringonça econômica permitiu aos EUA o controle do sistema financeiro global até 197i. Antes, o aumento das despesas militares desse Império das Guerras Eternas, na época, a do Vietnã, forçou o déficit da balança de pagamentos e a fuga de ouro para outros países, como a França a exigir conversão de dólares em ouro. Que faz os EUA, então sob Nixon, em 1971? Abandona o padrão-ouro, torna o dólar uma moeda fiduciária, isso é, não lastreada em ouro, e isso permite ao "único devedor em dólar que pode imprimir dólar" a "dever mais dólar ainda e então imprimir mais ainda" (as aspas são apenas para você não se perder na leitura), dólar cheirando a tinta de impressora sendo usado em negociações empurrando o preço do ouro físico, do mundo real, o refúgio de toda riqueza concreta por três mil anos, para baixo. Esse ardil leva demais Bancos Centrais a acumularem dólares e títulos do Tesouro dos EUA como reservas, em vez de ouro. E impede países periféricos de realizarem políticas públicas anticíclicas porque estavam literalmente morando dentro do bolso de quem imprima dólar para poderem "reduzirem suas dívidas", eternas. Essa aliás é segunda coisa eterna nesse texto, a primeira as guerras sem fim dos EUA contra o resto do mundo. Que, sob Trump terá como objeto as que os EUA podem ganhar, claro, que é contra anões geopolíticos que fazem as vezes de seus cães de guarda mundo afora: U.E., Japão, Austrália, Canadá, América Latina, Coréia do Sul. Temos mais gente comprando ouro, tem sobretudo China, Rússia, membros dos BRICS, aumentando reservas de ouro ao mesmo tempo em que aumentam negócios em suas próprias moedas, em lenta desdolarização do comércio mundial. Para concluir: *tem uma manipulação do preço do ouro que não tá conseguindo mais cumprir seu papel*. Hudson mostra que EUA e Reino Unido manipularam por décadas o preço do ouro através de vendas a descoberto e leasing de ouro, visando manter o preço artificialmente baixo. Mostra que isso não é algo que se ensine nas escolas, pois implica falar coisas de política que se evita explicitar: que esse ardil é o estratagema que sustenta a confiança no dólar pelo qual os EUA sugam a riqueza do mundo para que possam financiar seus déficits, ardil que também evita que o ouro se torne alternativa viável como parâmetro de valoração da riqueza (e o foi nos últimos três mil anos). O que a entrevista traz de novidade é que a procura, em especial por parte de Bancos Centrais e grandes investidores privados, por ouro cresce e muito. Primeiro sem alterações nas cotações por conta do estratagema citado linhas acima. Mas de uns meses para cá pressiona o preço para cima, e não foi pouco, mil dólares em cinco meses. E se todo mundo que tenha o papel "esse x dólar vale y em ouro" quiser ter o ouro em mãos? A suspeita, até algo jocosa mas para apontar o quão frágil está o atual arranjo da manipulação do preço do ouro tantas décadas após a entrada em cena de seu aluguel a preços baixos, é que a demanda indiana é que vá "romper' a casca do ovo. _Poderão ser joalheiros indianos. A Índia costumava ser chamada de “sumidouro do ouro”, porque, enquanto a maior parte do Ocidente e a China operavam no padrão prata, a Índia sempre se concentrou no ouro. Por isso, tem sido um dos principais compradores de ouro do sector privado._ _Muito do ouro é guardado em negociantes de ouro, ou Singapura é um local, um país que oferece guarda para as pessoas que querem guardar lá. Por isso, é possível reclamar a um banco ou negociante de Singapura, ou a um banco suíço que detenha ouro._ _E parte-se do princípio de que esse banco tem realmente o ouro e não está a funcionar apenas com base em reservas fraccionárias._ O artigo especula três soluções ante a possibilidade de simplesmente não existir mais esse ouro no Fort Knox: *solução 1* _Uma solução para os bancos centrais seria tentarem substituir os investimentos monetários tangíveis, dizendo simplesmente: “Bem, vamos desmonetizar o ouro. Já não precisamos de ouro. Desmonetizámo-lo em 1971. Mantivemo-lo nos livros. Mas agora não precisamos de ouro. Agora somos um sistema eletrónico, de inteligência artificial. Por isso, vamos adotar um sistema de contabilidade blockchain e esquecer o ouro; ele já não conta. Puf! Vamos pagar-vos o dinheiro que pagaram para obter o vosso ouro, e não é o dinheiro tão bom como o ouro? O crédito em papel que estamos a criar nos nossos computadores, o crédito eletrónico, não é tão bom como o ouro?”_ _Este é o ideal para um universo financeiro fictício baseado em créditos e responsabilidades que perderam toda a ligação à realidade física. Esse é um tipo de futuro que resolveria o problema._ *solução 2* _A velha rima dizia que há um problema em vender uma mercadoria a descoberto quando na realidade não se tem a mercadoria: “He who sells what isn’t his’n, must buy it back or go to prison” ("Quem vende o que não é seu, tem de o comprar de volta ou vai para a prisão")._ _Foi o que sempre se avisou aos vendedores a descoberto. Tenham muito cuidado se venderem o direito de alguém vos exigir essa mercadoria, quando o período estiver a subir, e disserem: “Bem, lamento, apenas especulámos que o preço iria descer, mas na verdade não temos o ouro, ou o trigo, ou o cobre, para vos vender”. Então, isso é fraude e é-se mandado para a prisão._ _Então, o que é que vai acontecer se todo um governo o fizer?_ _Bem, lembrem-se do que disse o Presidente Nixon: “Quando o presidente o faz, não é um crime”._ _Hoje, dirão: “Bem, não é um crime não podermos dar-vos o ouro que pensavam ter comprado. Já vos demos o dinheiro para o ouro; já vos restituímos o dinheiro. Isso não é suficiente?” Porque mudámos toda a natureza do sistema._ *solução 3* _(...) precisam de um novo Goldfinger para culpar pelos cofres vazios em Fort Knox. Mas como é que o vão encontrar? Bem, o Goldfinger não podia ter feito tudo o que fez de forma tão simples no filme._ _Mas talvez alguém possa simplesmente bombardear o Fort Knox e depois culpar quem quer que seja o inimigo da semana da América. Podem dizer: “Oh, o Hamas fez explodir Fort Knox com a bomba atómica que o Irão lhes deu. Vamos atacar o Irão. E é realmente uma pena que eles tenham feito isso, mas não há mais ouro. Portanto, isso é uma emergência nacional. Agora só vão ter dólares electrónicos”. Talvez haja algo de ficção científica, como isso._ _Bem, o Ocidente quer desmonetizar o ouro para que o problema – poof! – desapareça por acordo coletivo._ _O problema vai ser convencer os europeus e outros a aceitarem a situação e dizerem: “OK, vamos desmonetizar todo o nosso ouro. Sabe, vamos mantê-lo, mas vamos concordar, no futuro, que os Estados Unidos podem continuar a travar a nova guerra fria e a gastar dólares na economia, e não vamos comprar mais ouro, a menos que paguemos 4000, 5000, 6000 dólares por onça. Mas vamos continuar a deixar que o dólar americano seja a base do nosso próprio sistema monetário e financeiro”._ *uma aposta* _Certamente que a China, a Rússia, a maior parte da Ásia e o Sul Global não o vão fazer._ _É isso que torna este preço do ouro tão político. Esta ideia de para onde foi o ouro é a chave para a forma como o sistema monetário mundial [funciona] e controla o rumo que a geopolítica mundial vai tomar nos próximos anos._ *uma suspeita* O sistema atual pode sim ter atingido seus limites. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos. https://resistir.info/m_hudson/ouro_14fev25.html