Genuínos Ortodoxos no Brasil
Genuínos Ortodoxos no Brasil
February 9, 2025 at 11:58 AM
Meditação Arquiepiscopal Pela graça de Deus, estamos mais uma vez às portas da Grande Quaresma. Hoje, a Santa Igreja nos presenteia com o hino que nos mostra que novamente se aproxima para nós o tempo mais favorável ao arrependimento: "Abre-me, ó Doador da Vida, as portas do arrependimento, pois meu espírito se levanta pela manhã em direção ao Teu santo templo." Nos dias que antecedem a Santa Quaresma, a Santa Igreja nos conduz, em primeiro lugar, a olhar para nós mesmos. Pois, se queremos nos aproximar de Deus, se desejamos ir até Ele e viver n’Ele, isso depende, antes de tudo, de nossa própria decisão e vontade. Por isso, dedica-se a primeira semana à imagem do publicano e do fariseu, apresentando primeiramente a condição humana para, na semana seguinte, mostrar a vontade de Deus e nos guiar pelo mesmo caminho do arrependimento até o Pai Celestial. O Senhor inicia a parábola dizendo: "Dois homens subiram ao templo para orar." E, por meio dessa oração, revela o estado de ambos. Os Santos Padres ensinam que: "A oração é o espelho da estrutura espiritual." Portanto, olha-te nesse espelho, observa como oras e poderás saber com certeza qual é o teu estado espiritual. Não é por acaso que o Senhor apresenta essas duas imagens no contexto da oração, pois é justamente na oração que se revelam nossos lados bons e sombrios, a morte espiritual e o crescimento espiritual. O Triódio Quaresmal se inicia com um alerta significativo: "Irmãos, não oremos como os fariseus." O fariseu, executor da lei e cumpridor de todas as normas da Igreja, vem e ora em ação de graças, dizendo: "Ó Deus, dou-Te graças porque não sou como os outros homens: ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana, dou o dízimo de tudo o que possuo." E aqui está o outro homem: um publicano. Aparentemente, ele não cumpre nada da Lei, mas, sentindo-se insignificante, apenas bate no peito e reza: "Ó Deus, tem piedade de mim, pecador!" A Santa Igreja nos ensina, de maneira figurativa, o significado espiritual e mental desses dois estados. Nos livros antigos e em ícones antigos, muitas vezes vemos a imagem do publicano e do fariseu: O fariseu é retratado correndo em uma carruagem; O publicano, por sua vez, segue a pé. Ambos buscam o Reino dos Céus. Um dos troparios do Cântico 5 do Canon de hoje revela exatamente essa imagem: "Na carruagem das virtudes, o fariseu se vangloriava; mas o publicano, correndo a pé, mais rápido que as carruagens da Lídia, ia bem à frente, unindo a humildade à generosidade." Aqui está o fariseu, precipitando-se em sua carruagem das virtudes, acreditando que cumpriu tudo. E aqui está o publicano, que nada fez, mas com sua humildade chega antes do fariseu. O Senhor diz que ambos saíram do templo, mas o publicano foi mais justificado do que o fariseu. --- Os Dois Estados Espirituais Temos aqui dois estados diferentes: 1. A oração do fariseu começa com ação de graças: "Dou-Te graças, Senhor, porque não sou como os outros homens." Parece uma invocação a Deus, mas, na realidade, é uma exaltação do próprio "eu". São João Clímaco ensina que: "O centro do orgulho é a pregação desavergonhada das próprias obras." O Senhor conhece a alma do fariseu, mas ele insiste: "Não sou como os outros: transgressores, adúlteros, que humilham o próximo; não sou como este publicano." Ele parece acreditar e amar a Deus, parece buscar Sua ajuda, mas, na verdade, humilha o próximo e prega sem pudor suas boas obras. Ele já se aproxima do grau máximo de orgulho: o afastamento de Deus. Afinal, para que ele precisa de Deus, se já conseguiu tudo e só se vangloria de suas virtudes? São João Clímaco alerta: "A paixão do orgulho se alimenta da ação de graças" (Escada, Palavra 23, 3). O fariseu ainda ora, mas logo deixará de orar, pois a oração é um esforço para se aproximar de Deus e buscar Sua ajuda. São João Clímaco também diz: "Vi pessoas que davam graças a Deus com os lábios, mas estavam cheias de orgulho em seus pensamentos." 2. O estado do publicano: Abba Antônio ensinou: "Esta é a obra do homem: colocar seus pecados sobre sua cabeça diante de Deus." O publicano não se aproxima de Deus como um justo, mas como um pecador que precisa de Deus para purificar seus pecados. Por isso, ele ora: "Ó Deus, tem piedade de mim, pecador!" Ele não exalta suas virtudes – ainda que as tivesse. Em vez disso, coloca seus pecados diante de Deus e implora misericórdia. --- A Lição Espiritual para Nós Um tropario do Cântico 1 do Canon resume esta verdade: "Toda virtude se perde na exaltação, e todo mal se dissolve na humildade." São João Clímaco também alerta: "O orgulho destrói a virtude, como um naufrágio no porto" (Escada, Palavra 22, 2). O fariseu avança em sua carruagem das virtudes, esperando alcançar o Reino dos Céus. Ele acredita que está bem equipado para a salvação, mas, no último momento, sua carruagem quebra-se, e o publicano o ultrapassa a pé. --- O Equilíbrio Espiritual Precisamos unir ambos os exemplos: Devemos aprender com o fariseu o zelo pelas virtudes: "Esforcemo-nos para imitar as virtudes dos fariseus." Mas isso não basta. Se servirmos a Deus apenas assim, estaremos como alguém que tenta nadar com apenas uma mão. Precisamos também adquirir a humildade do publicano. O culto de hoje nos ensina: "Esforcemo-nos para imitar a virtude do fariseu e a humildade do publicano, rejeitando tanto a exaltação indigna quanto a queda destruidora." O publicano saiu mais justificado, mas isso não significa que ele já está no Reino dos Céus. São Efrém, o Sírio, mestre do arrependimento, nos ensina: "Olhemos nossos próprios pecados e não os de nosso irmão." Um Santo Padre certa vez foi chamado para julgar um irmão que pecara. Ele saiu, colocou um grande saco de areia sobre as costas e, à frente, carregava uma pequena cesta com um punhado de areia. Quando lhe perguntaram o significado, respondeu: "Este grande saco representa meus próprios pecados, que deixei para trás sem arrependimento. E esta pequena areia são os pecados do meu irmão, que coloco diante de mim e me envergonho deles." Se olharmos para nossos pecados, nos aproximaremos de Deus como o publicano e pediremos: "Ó Deus, tem piedade de mim, pecador!"
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