
Genuínos Ortodoxos no Brasil
February 16, 2025 at 09:06 AM
Meditação Arquiepiscopal
Os Santos Padres designaram o segundo domingo do Triódion para ser dedicado à impressionante e instrutiva parábola do Filho Pródigo (Lc 15, 13-32). O propósito era enfatizar para os fiéis o amor insondável de Deus pela humanidade e a abundante misericórdia do perdão que Ele concede aos arrependidos. Ensinar àqueles que estão desesperados que Deus permanece de braços abertos para acolher qualquer pecador penitente, independentemente da gravidade de seus pecados.
Se o domingo anterior, do Publicano e do Fariseu, é dedicado à denúncia da autossuficiência egoísta e patológica e à demonstração de suas consequências nefastas, o segundo domingo é dedicado à humildade, ao arrependimento e às suas benditas consequências. Se o maldito egoísmo fecha hermeticamente a porta da salvação, o arrependimento a abre completamente e reconcilia o homem com Deus.
Alguns afirmam com razão que, mesmo se todo o Evangelho fosse perdido e restasse apenas essa parábola, ela ainda poderia ser um texto de esperança e salvação para a humanidade. Em nenhuma religião do mundo Deus é apresentado de maneira tão compassiva, como um Pai amoroso. Em vez disso, adoram "deuses" estranhos e cruéis que odeiam os humanos. Na antiga tradição religiosa grega, os "deuses" eram invejosos e odiavam mortalmente os seres humanos. Por isso, as pessoas se viam obrigadas a oferecer constantemente sacrifícios e realizar rituais para apaziguá-los. Os antigos chegavam até mesmo a realizar sacrifícios humanos para tentar acalmar os maus espíritos e evitar o castigo injusto de seus falsos deuses.
Mas os judeus também não tinham uma compreensão muito melhor de Deus. Distantes da pregação dos profetas, imaginaram Deus como um juiz aterrorizante e distante, que existia apenas para espiar e punir as pessoas, mesmo quando Deus lhes explicou: “Assim como os céus estão acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos vossos caminhos, e os meus pensamentos acima dos vossos pensamentos” (Isaías 55:9). Ele os advertiu, por meio dos santos profetas, de que tinham uma visão completamente equivocada d'Ele.
O Verbo de Deus encarnado, nosso Senhor Jesus Cristo, que trouxe a verdade e a luz ao mundo — pois “a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo 1,18) — também revelou aos homens a verdadeira relação de Deus com suas criaturas. Ao revelar o verdadeiro Deus Trino (1 Jo 2,23), revelou também o Seu modo de existir, pois “Deus é amor” (1 Jo 4,16), o que significa que o modo de existência das Pessoas Divinas é o amor. O amor de Deus se estende a todas as Suas criaturas. Sua atitude para com elas é igualmente amorosa e se manifesta como energia incriada.
O principal destinatário do amor de Deus é o homem, Sua criação suprema, feita à Sua imagem e semelhança (Gn 1,26). Deus ama o homem, mas ao mesmo tempo respeita plenamente sua liberdade e suas escolhas, pois esta é uma característica essencial da personalidade humana. Ele sofre em Seu íntimo por nossa apostasia, mas espera pacientemente pelo nosso retorno. Uma vez que isso ocorre, Ele apaga instantaneamente todas as nossas transgressões e nos restaura à nossa antiga posição.
Arrependimento significa, literalmente, conversão, uma mudança de mentalidade. Essencialmente, é a transformação ontológica do homem, que passa do estado de autossuficiência egoísta para a consciência de sua pecaminosidade. É o movimento em direção a um espírito de humildade e contrição diante do Deus absolutamente bom, cuja luz revela plenamente a escuridão de nosso ser. Compreender nossa condição caída, nossa dolorosa experiência de afastamento da graça de Deus, é o primeiro passo para nossa restauração ontológica. Em seguida, vem a implementação de nossa grande decisão de mudar nossa mentalidade e corrigir nosso caminho em direção a Deus.
O arrependimento exige um heroísmo especial e um espírito de luta, como se reflete maravilhosamente na passagem evangélica do Filho Pródigo. Assim como todos os bens espirituais, a nossa salvação é fruto de heroísmo, abnegação incondicional e intensa batalha espiritual. O diabo, nosso adversário, nos ataca “como um leão que ruge” (1 Pe 5,8), combate-nos furiosamente e não nos permite “cair em si”. Ele coloca inúmeros obstáculos em nosso caminho para erradicar qualquer desejo de arrependimento. O pior e mais eficaz desses obstáculos é o desespero. O diabo insere pensamentos pessimistas na mente do pecador, fazendo-o acreditar que Deus o odeia e não o perdoará por sua pecaminosidade, mantendo-o assim preso ao pecado e ao mal.
Entretanto, o pecador deve, antes de tudo, lembrar que Deus nunca deixou de amá-lo e espera ansiosamente pelo seu retorno. Ele deve fundamentar suas esperanças na infinita misericórdia divina, que é capaz de apagar até mesmo a maior das dores. O Senhor nos assegurou que “há alegria no céu por um pecador que se arrepende” (Lc 15:7), o que significa que nosso amado Deus e Pai, junto com todo o mundo espiritual celestial, aguardam ansiosamente o nosso arrependimento para que possam celebrar! Os arrependidos são também chamados de “bem-aventurados, cujas iniquidades são perdoadas e cujos pecados são apagados”. “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa pecado” (Sl 31, 1-2). O arrependimento é tão importante para o pecador que o diabo faz de tudo para impedi-lo!
Um maravilhoso troparion do dia expressa perfeitamente o alto significado da parábola do Filho Pródigo:
"Tendo desperdiçado a riqueza do dom do Pai, juntei-me aos rebanhos de animais e com eles, faminto de pão, encontrava-me em necessidade e não me saciava; mas voltando-me para o Pai misericordioso, clamei com lágrimas: recebe-me como um servo, pois caio sobre Tua misericórdia, e salva-me!"
Cada um de nós também é um pródigo aos olhos de Deus, pois desperdiçamos, assim como o filho da parábola, a riqueza espiritual que nos foi dada pelo Pai celestial. Longe d’Ele, nos rebaixamos à condição de animais. Abandonamos o alimento espiritual da mesa real e nos alimentamos das sobras sujas e malcheirosas do mundo, sem sequer conseguirmos nos saciar.
Um exemplo claro dessa perversão é a forma como alguns de nossos contemporâneos "celebram" o Domingo do Filho Pródigo. Eles celebram a promiscuidade e se orgulham de seus pecados, ao invés de celebrar o arrependimento, como a Igreja ensina! Vão a tavernas e outros locais de diversão para honrar o Filho Pródigo por sua devassidão, e não por seu retorno ao Pai. Um absurdo completo e uma escravidão ao pecado!
Mas a Santa Igreja, neste tempo abençoado, nos convida a “cair em nós mesmos”. A reconhecer nossa terrível condição e interromper o caminho descendente da perdição. A refletir sobre nossa dignidade real, pois somos filhos do Deus supremo e herdeiros de Seu Reino. A compreender que nosso Pai Celestial é amoroso e espera nossa chegada para correr ao nosso encontro. Ele removerá as vestes imundas do pecado e da corrupção e nos revestirá com a glória espiritual. Ele nos colocará em Suas mãos o anel da vida eterna. Ele preparará para nós um banquete celestial, para que todos juntos possamos celebrar o nosso retorno à casa do Pai — pois estávamos mortos e voltamos à vida, estávamos perdidos e fomos encontrados!
O que significa “andar na verdade” (3 João 1:3-4)?
Significa aceitar a verdade em nosso coração e agir, em pensamentos e sentimentos, de acordo com ela. Quem aceita a verdade de que Deus está em toda parte e tudo vê, e age como se Deus estivesse sempre diante dele, anda na verdade. Quem aceita que sem Deus nada pode fazer com sucesso, e por isso recorre a Ele em oração, anda na verdade. Quem aceita que a morte pode vir a qualquer momento e que logo após virá o Juízo, e por isso vive com temor de Deus, anda na verdade. E assim também em relação a qualquer outra verdade.
Por S.E.R.Vladyka Panteleimon, Arcebispo da América latina do Santo Sínodo GOX de Avlona na Grécia.

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