
Genuínos Ortodoxos no Brasil
February 26, 2025 at 02:15 PM
*OS TERMOS "CRISTÃO" E "ORTODOXO" SÃO PRECISOS PARA OS NOSSOS TEMPOS?*
Até pouco tempo atrás [1975], os conceitos e termos "cristão" e "ortodoxo" eram inequívocos e tinham um significado claro. No entanto, agora vivemos tempos tão terríveis, tão cheios de falsidade e engano, que esses conceitos e termos já não transmitem seu real significado quando utilizados sem uma explicação mais detalhada. Eles já não refletem a essência das coisas, mas tornaram-se pouco mais que rótulos enganosos.
Muitas sociedades e organizações agora se autodenominam "cristãs", embora não haja nada de cristão nelas, visto que rejeitam o dogma principal do Cristianismo: a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, como fazem várias das seitas mais recentes, para as quais o próprio espírito do verdadeiro Cristianismo — que flui de maneira tão natural e lógica das Sagradas Escrituras — lhes é geralmente bastante estranho.
Ultimamente, o termo "ortodoxo" também deixou, em grande parte, de expressar o que deveria, pois até mesmo aqueles que de fato apostataram da verdadeira Ortodoxia e se tornaram traidores da fé e da Igreja Ortodoxa continuam a se autodenominar "ortodoxos".
Assim são todos os inovadores que rejeitam o verdadeiro espírito da Ortodoxia, todos aqueles que trilharam o caminho do relacionamento com os inimigos da Ortodoxia, promovendo a oração em comum e até mesmo a comunhão litúrgica com aqueles que não pertencem à Santa Igreja Ortodoxa. Assim são os "renovacionistas" e os "neo-renovacionistas" contemporâneos, os "neo-ortodoxos" (como alguns ousam até se autodenominar abertamente!), que clamam pela necessidade de "renovar a Igreja Ortodoxa", de promover algum tipo de "reformas na Ortodoxia", como se ela tivesse se tornado "ultrapassada" e "moribunda". Insistem nisso, ao invés de focarem sua atenção devota na renovação verdadeiramente essencial de suas próprias almas e na reforma fundamental de sua natureza pecaminosa, com suas paixões e desejos.
Proclamam insistentemente a união com os hereges, com os não ortodoxos e até mesmo com os não cristãos. Proclamam "a união de todos", mas sem a unidade de espírito e de verdade, que é o único fundamento real para a verdadeira união.
Assim são, por exemplo, em nossos dias, os Patriarcas Ecumênicos de Constantinopla, que no passado reconheceram como legítima a "Igreja Viva" na Rússia Soviética e agora reconhecem o Papa de Roma como "cabeça de toda a Igreja Cristã", chegando até a admitir os latinos papistas à Santa Comunhão sem que primeiro se unam à Santa Igreja Ortodoxa.
Assim são todos aqueles que participam ativamente do chamado Movimento Ecumênico, que busca abertamente criar uma espécie de nova pseudo-igreja a partir de todas as denominações atualmente existentes.
Assim também são muitos outros que não são inteiramente fiéis ao nosso Senhor e Salvador e à Sua Santa Igreja, mas que servem a Seus inimigos perversos ou os agradam de alguma forma, ajudando-os a alcançar seus objetivos anticristãos em um mundo que se afastou de Deus.
Quem ousará negar-nos nosso legítimo direito de não reconhecer essas pessoas como ortodoxas, ainda que insistam em usar esse nome e ostentar diversos títulos e posições elevadas?
A história da Igreja nos ensina que houve não poucos hereges e até mesmo heresiarcas de alto escalão que foram solenemente condenados pela Igreja Universal e removidos de seus cargos.
Mas o que vemos hoje?
Infelizmente, vivemos em uma época de concessões ilimitadas e de colaborações ardilosas, na qual nem mesmo as mais escandalosas declarações ou ações heréticas parecem incomodar ninguém. Poucos reagem como deveriam a essa manifesta apostasia da Ortodoxia, e quanto a condenar esses novos hereges e apóstatas, nem sequer se cogita tal coisa. Hoje, tudo é permitido a todos e nada é proibido a ninguém — exceto quando alguém se sente pessoalmente ofendido ao ter sua própria loucura apontada. Oh, nesses casos, isso é imperdoável! Então surgem as ameaças, baseadas naqueles cânones esquecidos, que de outra forma seriam considerados "obsoletos, antiquados e inaceitáveis" nesta nossa era avançada e progressista!
Este é o tipo de desintegração moral, de verdadeira monstruosidade espiritual, com a qual nos deparamos.
A verdade é facilmente ignorada e descaradamente desprezada, enquanto o mal, com a mesma facilidade, celebra sua vitória triunfal e zomba com regozijo da verdade que derrubou e pisoteou.
É possível reconciliar a própria consciência com essa situação contemporânea?
Pode alguém fechar os olhos para todas essas mentiras e falsidades e agir tranquilamente como se nada de errado estivesse acontecendo?
Somente aqueles cuja consciência está queimada ou completamente perdida podem fazê-lo! Por isso, é mais do que estranho ouvir alguns, que pretendem ser ortodoxos, chamarem a Igreja Russa no Exterior de "velhos crentes", "cismáticos", "centurianos", ["retrógrados", "obscurantistas", etc., simplesmente porque não queremos seguir o ritmo destes tempos e não ousamos apostatar em nada do Evangelho de Cristo e do ensinamento original da Santa Igreja. Consideramos uma obrigação de consciência condenar esse mal claro e evidente da vida contemporânea, que já penetrou na Igreja.
Na verdade, não somos nós os cismáticos, mas sim todos aqueles que seguem o espírito desta era e, por esse ato, se separam da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, apostatando da fé apostólica, da fé dos Padres, da fé ortodoxa, que estabeleceu o mundo inteiro… Essas pessoas estão, obviamente, precipitando-se no abismo da apostasia e da perdição, juntamente com todo o mundo contemporâneo, enterrando-se em sua revolta contra Deus, o Criador da vida.
Ouvis as palavras divinamente inspiradas do Apóstolo, ó modernistas, que tentam distorcer o Evangelho de Cristo e tão facilmente e fervorosamente se conformam "a este mundo", tão maligno e sedutor como ele é?
Aceitamos de bom grado vossa acusação de que somos "velhos crentes", considerando isso uma honra ao nosso tradicionalismo. Mas como vossa consciência cristã lida com vossas inovações, que essencialmente destroem a antiga e verdadeira fé e a imutável Igreja de Cristo?
Não foi o Apóstolo que advertiu a todos os cristãos:
"Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." (Rom. 12:2)
Somos "velhos crentes", mas não cismáticos, porque nunca nos separamos da verdadeira Igreja de Cristo.
Estamos em união com nossa Cabeça, Cristo Salvador, com Seus santos Discípulos e Apóstolos, com os Padres Apostólicos, com os grandes Padres e Mestres da Igreja, e com as grandes luminárias e pilares da fé e da piedade de nossa Pátria, a Santa Rússia. Mas vós estais em união com uma espécie de mestres inovadores, autoproclamados, que promoveis por toda parte de maneira ilegal e obstinada, desprezando e, às vezes, até ousando criticar as autênticas luminárias de nossa Santa Igreja, que agradaram a Deus e foram glorificadas através de suas muitas lutas ascéticas de piedade e milagres ao longo da história de dois mil anos.
Sendo assim, quem de nós é realmente o cismático?
Sem dúvida, não aqueles que permanecem no espírito da Ortodoxia tradicional, mas aqueles que apostataram da verdadeira fé de Cristo e rejeitaram o espírito genuíno da piedade cristã. Ainda que todos os patriarcas contemporâneos, que alteraram nossa antiga Ortodoxia patrística, estejam do lado desses apóstatas, assim como a maioria dos chamados cristãos de hoje, isso não muda a verdade.
Cristo Salvador não prometeu a salvação eterna à maioria. Pelo contrário, Ele a prometeu ao Seu "pequeno rebanho", que Lhe permanecerá fiel até o fim, no dia de Sua gloriosa e terrível Segunda Vinda, quando virá "julgar os vivos e os mortos".
"Não temais, pequeno rebanho," disse Ele, pintando diante de nossa mente o aterrorizante quadro dos últimos tempos de apostasia e perseguição da fé, "porque aprouve a vosso Pai dar-vos o Reino." (Lc. 12:32)
Por isso, tudo o que foi dito nos leva a revisar a terminologia aceita até agora. Em nossos tempos, não basta dizer apenas "cristão", mas é necessário qualificá-lo como "cristão verdadeiro". Da mesma forma, não basta dizer "ortodoxo", mas é preciso enfatizar que não se trata de um "ortodoxo" modernista e inovador, e sim de um verdadeiro ortodoxo.
Todos os verdadeiros zelotes da fé autêntica, que servem unicamente a Cristo Salvador, já começaram a fazer isso. Tanto os de nossa Pátria, escravizada por ferozes inimigos de Deus, onde os zelotes se refugiam nas catacumbas como os antigos cristãos, quanto os da Grécia, nossa nação irmã, onde os "velhos calendaristas" não apenas recusam aceitar o novo calendário, mas rejeitam também toda inovação de qualquer tipo. Esses têm uma veneração especial pelo campeão da Santa Ortodoxia, São Marcos, Metropolita de Éfeso, cuja firmeza fez fracassar a ímpia união de Florença com a Roma papal em 1439.
Em nossa firme posição em favor da verdadeira Fé e da Igreja, é essencial evitar todo orgulho e exaltação pessoal, pois isso inevitavelmente leva a novos erros e, no final, até mesmo à queda, como já vimos em vários casos.
Não devemos exaltar a nós mesmos, mas sim a pura e imaculada Fé de Cristo. Nenhum fanatismo é admissível aqui, pois ele pode cegar os olhos espirituais daqueles que "não são zelosos segundo a ciência". Em vez de nos firmar na Fé, esse fanatismo cego pode, às vezes, nos afastar dela.
É importante saber e lembrar que um verdadeiro cristão ortodoxo não é aquele que simplesmente aceita formalmente os dogmas da Ortodoxia, mas aquele que, como ensinou tão belamente nosso grande hierarca russo, São Tikhon de Zadonsk, pensa, sente e vive de maneira ortodoxa, encarnando em sua vida o espírito da Ortodoxia.
Esse espírito ascético e de renúncia ao mundo, tão claramente exposto na Palavra de Deus e nos ensinamentos dos Santos Padres, é negado abertamente e audaciosamente pelos modernistas, os "neo-ortodoxos", que querem seguir em tudo o espírito deste mundo que jaz no maligno, cujo príncipe, nas palavras do próprio Senhor, não é outro senão o diabo (Jo. 12:31).
Assim, não buscam agradar a Deus, mas ao "príncipe deste mundo", o diabo. E, com isso, deixam de ser verdadeiros cristãos ortodoxos, mesmo que continuem a se chamar assim.
Se considerarmos tudo isso de maneira mais séria e profunda, veremos que é precisamente assim. O modernismo, com suas inovações, está nos afastando de Cristo e de Sua verdadeira Igreja.
Horrorizemo-nos com a rapidez com que a apostasia ocorreu, ainda que os modernistas não percebam nem sintam isso, pois eles mesmos participam ativamente dela.
Não temamos, portanto, permanecer em minoria, longe de todos os seus títulos e honrarias altissonantes. Lembremo-nos sempre de que até Caifás foi sumo sacerdote do verdadeiro Deus — e até que profundezas ele caiu: até o terrível pecado do deicídio!
Enquanto vivermos neste mundo que apostatou de Deus, não busquemos a glória humana vã nem a popularidade barata, que não nos salvarão, mas apenas estar dentro do "pequeno rebanho" de Cristo.
Sejamos verdadeiros cristãos ortodoxos, e não modernistas!
(Texto do Arcebispo Averky de Beata Memória, Da Vida Ortodoxa , Vol. 25, No. 3 (maio-junho de 1975), pp. 4-8.)
Enviado por S.E.R.Vladyka Panteleimon, Arcebispo da América latina do Santo Sínodo GOX de Avlona na Grécia.

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