
Genuínos Ortodoxos no Brasil
February 28, 2025 at 02:57 PM
III. Tentativas de judeus e hereges de desacreditar a virgindade de Maria
Os caluniadores judeus logo descobriram que era quase impossível desacreditar a Mãe de Jesus e que, com base nas informações que eles próprios possuíam, era muito mais fácil demonstrar sua vida louvável. Por isso, abandonaram essa calúnia, que já havia sido retomada pelos pagãos (Orígenes, Contra Celso, I), e tentaram demonstrar pelo menos que Maria não era virgem quando deu à luz a Cristo. Até mesmo afirmavam que a profecia sobre o nascimento do Messias de uma Virgem nunca existiu, e que, portanto, era completamente inútil que os cristãos pensassem em exaltar Jesus com isso, como se essa profecia tivesse se cumprido n'Ele.
Houve tradutores judeus (Áquila, Símaco, Teodócio) que produziram novas traduções do Antigo Testamento para o grego, nas quais traduziram a famosa profecia de Isaías como: “Eis que a jovem conceberá” (Is 7:14). Alegavam que a palavra hebraica aalmah significava uma mulher jovem, e não uma virgem, como constava na tradução sagrada dos 70 intérpretes, onde esse trecho é traduzido como: “Eis que uma virgem conceberá”.
A nova tradução pretendia demonstrar que os cristãos, baseando-se na tradução incorreta da palavra aalmah, atribuíam a Maria algo completamente impossível: um nascimento sem relação com um homem, enquanto, na realidade, o nascimento de Cristo não diferiria dos outros nascimentos humanos.
No entanto, a má intenção dos novos tradutores ficou claramente revelada, pois, ao comparar diferentes trechos da Bíblia, percebe-se que a palavra aalmah significa precisamente "virgem". E não apenas os judeus, mas também os pagãos, baseando-se em suas tradições e diversas predições, esperavam que o Salvador do mundo nascesse de uma Virgem. O Evangelho afirma claramente que o Senhor Jesus nasceu de uma Virgem.
“Como será isso, se não conheço varão?”, perguntou Maria, que havia feito voto de virgindade, ao Arcanjo Gabriel, que lhe anunciou o nascimento de Cristo. E o anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso também o Santo que nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1:34–35).
Mais tarde, o anjo apareceu ao justo José, que queria deixar Maria, sabendo que ela havia concebido sem ter convivência marital com ele. O Arcanjo Gabriel disse a José: “Não temas receber Maria, tua esposa, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo”, e lembrou-lhe a profecia de Isaías sobre a concepção da Virgem (Mt 1:18–25).
A vara de Aarão que floresceu (Nm 17:8), a pedra cortada sem mãos do monte, vista por Nabucodonosor em sonho e interpretada pelo profeta Daniel (Dn 2:31–45), as portas fechadas vistas pelo profeta Ezequiel (Ez 44:1–4) e muitas outras prefigurações no Antigo Testamento anunciaram o nascimento da Virgem. Assim como Adão foi criado pelo Verbo de Deus a partir da terra virgem e inculta, assim também o Verbo de Deus criou para si a carne a partir do ventre virginal, tornando-se o novo Adão para corrigir a queda do primeiro Adão (São Irineu de Lyon, Livro III).
Somente aqueles que rejeitam o Evangelho podem negar o nascimento sem semente de Cristo, mas a Igreja de Cristo sempre confessou Cristo como “encarnado pelo Espírito Santo e por Maria Virgem”. No entanto, o nascimento de Deus a partir da Virgem Maria tornou-se pedra de tropeço para aqueles que queriam se chamar cristãos, mas não queriam humilhar sua mente e aspirar à pureza de vida. A vida pura de Maria era um reproche para aqueles que são impuros em seus pensamentos. Para parecerem cristãos, não ousavam negar que Cristo nasceu da Virgem, mas começaram a afirmar que Maria permaneceu virgem apenas “até que deu à luz seu filho primogênito... Jesus” (Mt 1:25).
“Depois do nascimento de Jesus” – dizia o falso mestre Helvídio no século IV, assim como muitos antes e depois dele – “Maria entrou em vida matrimonial com José e teve filhos dele, que são chamados no Evangelho de irmãos e irmãs de Cristo”.
Porém, a palavra “até” não significa que Maria permaneceu virgem apenas por um certo tempo. A palavra "até" e expressões semelhantes frequentemente indicam eternidade. A Sagrada Escritura diz sobre Cristo: “Em seus dias florescerá a justiça e abundância de paz, até que não haja mais lua” (Sl 72:7), mas isso não significa que, quando a lua desaparecer no fim do mundo, a justiça de Deus deixará de existir; ao contrário, então ela triunfará plenamente.
O Salvador diz aos Apóstolos no Evangelho: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28:20). Então, no fim dos tempos, o Senhor se afastará de Seus discípulos? E quando eles julgarem as doze tribos de Israel sentados em doze tronos, não terão mais a comunhão prometida com o Senhor? (Beato Jerônimo, Sobre a Sempre Virgindade da Santíssima Maria).
Também é errôneo pensar que os irmãos e irmãs de Cristo fossem filhos de sua Santíssima Mãe. Os termos "irmão" e "irmã" possuem diversos significados. Essas palavras, que indicam certo grau de parentesco ou proximidade espiritual, às vezes são usadas de forma mais ampla e, outras vezes, de maneira mais restrita.
Em nenhum lugar do Evangelho se afirma que os irmãos de Jesus ali mencionados eram ou eram considerados filhos de Sua Mãe. Pelo contrário, sabe-se que Tiago e os outros eram filhos de José, o prometido de Maria, que era viúvo e tinha filhos de sua primeira esposa (São Epifânio de Chipre, Panarion contra a heresia, 78).
Além disso, a irmã de Sua Mãe, Maria, esposa de Cléofas, que estava com Ela junto à cruz do Senhor (Jo 19:25), também teve filhos que, devido a essa estreita relação, poderiam ser chamados de irmãos do Senhor.
Que os chamados irmãos e irmãs do Senhor não eram filhos de Sua Mãe fica claramente demonstrado pelo fato de que, antes de Sua morte, o Senhor confiou Sua Mãe ao Seu discípulo amado, João (Jo 19:27). Por que Ele faria isso se Ela tivesse outros filhos além d'Ele? Eles mesmos cuidariam d'Ela. Os filhos de José, considerado pai de Jesus, não se sentiam obrigados a cuidar da mulher que, segundo pensavam, era apenas sua madrasta.
Assim, um estudo atento das Sagradas Escrituras revela com total clareza a inconsistência das objeções contra a virgindade perpétua de Maria e expõe o erro daqueles que ensinam o contrário.
IV. A Heresia Nestoriana, que Proclamou a Mãe de Deus Apenas como Mãe de Cristo, e o Terceiro Concílio Ecumênico
Quando aqueles que ousaram falar contra a santidade e pureza da Santíssima Virgem Maria precisaram ser silenciados, tentou-se então destruir sua veneração como Mãe de Deus. No século V, o arcebispo de Constantinopla, Nestório, começou a pregar que apenas o homem Jesus nasceu de Maria, e que a Divindade entrou e habitou nele como em um templo. Inicialmente, essa ideia foi permitida por seu presbítero Anastácio, e depois o próprio Nestório começou a ensinar abertamente na igreja que Maria não poderia ser chamada de Mãe de Deus, pois não teria dado à luz o Deus-Homem. Para ele, era humilhante adorar o Menino envolto em faixas e deitado em uma manjedoura.
Esses sermões causaram confusão geral e preocupação com a pureza da fé, primeiro em Constantinopla e depois em todos os lugares para onde chegaram os rumores dessa nova doutrina. São Proclo, discípulo de São João Crisóstomo e então bispo de Cízico (mais tarde arcebispo de Constantinopla), pronunciou um sermão na igreja na presença de Nestório, confessando que o Filho de Deus nasceu na carne da Virgem e que ela é verdadeiramente a Mãe de Deus. Pois, desde o ventre puríssimo, no momento da concepção, a Divindade se uniu à Criança concebida pelo Espírito Santo. Assim, embora por sua natureza humana tenha nascido da Virgem Maria, ele já nasceu como verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Nestório persistiu em sua crença e se recusou a mudar seu ensinamento, insistindo que era necessário distinguir entre Jesus e o Filho de Deus. Segundo ele, Maria não deveria ser chamada de Mãe de Deus, mas apenas Mãe de Cristo, pois Jesus, nascido de Maria, seria apenas um homem – Cristo (Messias, Ungido), semelhante aos profetas anteriores, apenas os superando em sua proximidade com Deus. A doutrina de Nestório, portanto, negava toda a economia divina, pois, se de Maria nasceu apenas um homem, então não foi Deus quem sofreu por nós, mas apenas um ser humano.
São Cirilo, arcebispo de Alexandria, ao tomar conhecimento da doutrina de Nestório e dos distúrbios eclesiásticos que causou em Constantinopla, escreveu-lhe uma carta exortando-o a manter-se fiel ao ensinamento da Igreja desde sua fundação, sem introduzir nada de novo. Além disso, São Cirilo escreveu ao clero e ao povo de Constantinopla para que permanecessem firmes na fé ortodoxa e não temessem as perseguições de Nestório contra aqueles que discordavam dele. Ele também informou tudo ao Papa São Celestino de Roma, que, junto com todo o seu rebanho, ainda mantinha a ortodoxia.
São Celestino escreveu a Nestório exortando-o a pregar a fé ortodoxa e não suas próprias ideias. Porém, Nestório se manteve inflexível e respondeu que o que pregava era a verdadeira ortodoxia, enquanto seus opositores seriam hereges. Diante disso, São Cirilo compôs doze anátemas, nos quais expôs em doze artigos as principais diferenças entre a doutrina ortodoxa e a de Nestório, declarando excomungado quem rejeitasse até mesmo um desses artigos.
Nestório rejeitou inteiramente os anátemas de São Cirilo e escreveu sua própria exposição de doutrina em doze artigos, anatematizando aqueles que não os aceitassem. O perigo à pureza da fé crescia. São Cirilo escreveu então ao imperador Teodósio, à imperatriz Eudóxia e à irmã do imperador, Pulquéria, pedindo que ajudassem a conter a heresia.
Decidiu-se convocar um Concílio Ecumênico, no qual os hierarcas, reunidos de diversas partes do mundo, decidiriam se o ensinamento de Nestório era ortodoxo. A cidade escolhida foi Éfeso, onde a Santíssima Virgem Maria havia vivido com o Apóstolo João, o Teólogo. Assim foi realizado o Terceiro Concílio Ecumênico. São Cirilo reuniu seus bispos no Egito e viajou de navio até Éfeso. Da Antioquia, João, arcebispo daquela cidade, seguiu por terra com outros bispos orientais. O Papa São Celestino não pôde comparecer pessoalmente e enviou dois bispos e o presbítero Filipe como seus representantes. Também chegaram a Éfeso Nestório e os bispos de Constantinopla, Palestina, Ásia Menor e Chipre.
No dia 22 de junho de 431, os bispos reuniram-se na Igreja da Virgem Maria em Éfeso, sob a presidência de São Cirilo de Alexandria e São Memnon de Éfeso. No centro foi colocado o Evangelho, como sinal da direção invisível de Cristo sobre o Concílio. Primeiramente, leu-se o Credo Niceno-Constantinopolitano e, em seguida, a carta do imperador Teodósio. Depois, os documentos do Concílio foram lidos, incluindo as cartas de São Cirilo e São Celestino a Nestório, bem como suas respostas.
O Concílio, por unanimidade, reconheceu a doutrina de Nestório como impiedosa e a condenou, privando-o de sua sé episcopal e do sacerdócio. Cerca de 160 participantes assinaram a decisão, representando, no total, mais de 200 bispos. Assim, o decreto do Concílio foi a voz de toda a Igreja, que proclamou que Cristo, nascido da Virgem, é verdadeiro Deus encarnado. Como Maria deu à luz um homem perfeito que era, ao mesmo tempo, Deus perfeito, ela deveria ser justamente chamada de Mãe de Deus.
Ao término da sessão, a decisão foi anunciada ao povo. Toda a cidade de Éfeso celebrou com alegria a confirmação da veneração da Santíssima Virgem. Os fiéis saudaram os Padres do Concílio com tochas e incenso pelas ruas. A decisão foi publicada por toda a cidade.
O Concílio teve mais cinco sessões nos meses seguintes, onde foram estabelecidas medidas contra os que espalhassem a doutrina de Nestório e rejeitassem os decretos do Concílio. Também se confirmou a independência da Igreja de Chipre em relação ao Patriarcado de Antioquia, afirmando que nenhum bispo deveria subjulgar regiões que anteriormente eram autônomas. Além disso, o Concílio condenou a heresia pelagiana, que ensinava que o homem poderia se salvar sem a graça de Deus.
O Concílio também reafirmou que a fé da Igreja estava plenamente expressa no Credo Niceno-Constantinopolitano, proibindo qualquer alteração futura. Essa proibição foi violada séculos depois pelos cristãos ocidentais, que acrescentaram a cláusula “e do Filho” ao Credo. Essa alteração foi aceita oficialmente pelos papas romanos a partir do século XI, apesar de seus predecessores, incluindo São Celestino, terem aderido firmemente às decisões do Concílio de Éfeso.
Dessa forma, a paz, rompida por Nestório, foi restaurada na Igreja. A verdadeira fé foi defendida, e os falsos ensinamentos foram condenados. O Concílio de Éfeso é justamente considerado ecumênico, ao lado dos Concílios de Niceia e Constantinopla, pois contou com representantes de toda a Igreja e teve suas decisões aceitas por todos os fiéis ortodoxos.
O Concílio não criou uma nova doutrina, mas proclamou a verdade que já era professada desde os tempos apostólicos. Ele expressou com clareza a divindade de Cristo e a maternidade divina de Maria, estabelecendo de forma definitiva que quem não confessasse Cristo como Deus e, portanto, não reconhecesse Maria como Mãe de Deus, seria anatematizado.

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