
Genuínos Ortodoxos no Brasil
March 1, 2025 at 01:41 PM
VI. “Não tenhais zelo conforme a ciência” (Rm 10:2). A perversão, por parte dos latinos, da verdadeira veneração à Santíssima Virgem Maria no dogma recém-inventado da “Imaculada Conceição”
Quando foram expostos aqueles que censuravam a vida imaculada da Santíssima Virgem – aqueles que negavam a Sua Sempre Virgindade, que negavam a Sua dignidade de Mãe de Deus, que desdeñavam os Seus ícones – e, ao mesmo tempo, quando a glória da Mãe de Deus iluminou todo o universo, surgiu então um ensinamento que, à primeira vista, parecia exaltar sobremaneira a Virgem Maria, mas que, na realidade, rejeitava todas as Suas virtudes.
Esse ensinamento é chamado de doutrina da Imaculada Conceição da Virgem Maria e foi aceito pelos seguidores do papado romano. Consiste em afirmar que “a Santíssima Virgem Maria, no primeiro momento de sua concepção, por especial graça de Deus Todo-Poderoso e por privilégio singular, em razão dos méritos futuros de Jesus Cristo, Salvador da humanidade, foi preservada livre de qualquer mancha de culpa original” (conforme a bula do Papa Pio IX sobre o novo dogma). Em outras palavras, sustenta-se que a Mãe de Deus foi preservada do pecado original desde a própria concepção e, pela graça de Deus, tornou-se incapaz de cometer pecados pessoais.
Os cristãos não ouviram falar disso até o século IX, quando o abade de Corvey, Paschasius Radbertus, expressou pela primeira vez a opinião de que a Santíssima Virgem fora concebida sem pecado original. A partir do século XII, essa ideia começou a difundirem-se entre o clero e o rebanho da Igreja ocidental, que já se havia afastado da Igreja ecumênica e, assim, perdido a graça do Espírito Santo.
Contudo, nem todos os membros da Igreja romana concordavam com esse novo ensinamento. Até mesmo os teólogos ocidentais famosos – por assim dizer, os pilares da Igreja latina – encontravam-se divididos em suas opiniões. Tomás de Aquino e Bernardo de Claraval condenaram energicamente essa doutrina, enquanto Duns Escoto a defendeu. Entre os professores a divisão se estendeu aos alunos: os monges dominicanos latinos, seguindo seu mestre Tomás de Aquino, pregavam contra a Imaculada Conceição, enquanto os seguidores de Duns Escoto – os franciscanos – tentavam implantá-la em todos os lugares. Essa luta entre as duas correntes perdurou por vários séculos, e em ambos os lados havia indivíduos considerados as maiores autoridades entre os católicos.
O fato de alguns afirmarem ter recebido uma revelação do alto sobre esse assunto não ajudou a resolver o problema. A famosa monja Brigitta, entre os católicos do século XIV, registrou em suas anotações as aparições da Mãe de Deus a ela, na qual a própria Virgem lhe disse que fora concebida imaculadamente, sem pecado original; e uma asceta contemporânea ainda mais célebre, Catarina de Siena, afirmou que, na concepção, a Santíssima Virgem esteve envolvida com o pecado original, mas que recebeu revelações do próprio Cristo (conforme Arcipreste A. Lebedev, Diferenças nas Ensinações sobre a Santíssima Theotokos das Igrejas Oriental e Ocidental).
Assim, baseando-se nem nos escritos teológicos nem em fenômenos milagrosos – ambos mutuamente contraditórios –, o rebanho latino por muito tempo não conseguiu compreender onde estava a verdade. Os papas, até Sisto IV (final do século XV), mantiveram-se à margem dessas controvérsias; somente esse papa, em 1475, aprovou um rito no qual a doutrina da Imaculada Conceição era claramente expressa, e alguns anos depois proibiu condenar aqueles que acreditavam nela. No entanto, nem mesmo Sisto IV se atreveu ainda a afirmar que essa fosse a doutrina inabalável da Igreja; havendo proibido a condenação dos que acreditavam na Imaculada Conceição, ele não condenou os que acreditavam de forma diversa.
Enquanto isso, a doutrina da Imaculada Conceição vinha ganhando cada vez mais adeptos entre os membros da Igreja Católica Romana. Isso se deve, em parte, ao fato de que a Mãe de Deus parecia, aos olhos dos fiéis, ser um objeto de piedade e de uma glorificação máxima. De um lado, havia o desejo popular de exaltar o Intercessor Celestial; de outro, a tendência dos teólogos ocidentais a se desviarem para raciocínios abstratos – que levam apenas a uma verdade aparente (o Escolasticismo) – e, finalmente, o patrocínio dos papas romanos após Sisto IV. Tudo isso levou ao fato de que a opinião sobre a Imaculada Conceição, expressa por Paschasius Radbertus no século IX, já era a crença geral da Igreja latina no século XIX. Só faltava proclamá-la definitivamente como ensinamento da Igreja, o que ocorreu quando o Papa Pio IX, durante um serviço solene em 8 de dezembro de 1854, declarou que a Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria era um dogma da Igreja Romana.
Dessa forma, a Igreja Romana acrescentou outra distorção à doutrina que professava enquanto membro da Igreja Católica Apostólica – fé que a Igreja Ortodoxa mantém inviolável e inalterada. A proclamação do novo dogma satisfez amplos círculos do povo pertencente à Igreja Romana, que, na simplicidade de seus corações, pensou que o anúncio do novo ensinamento serviria para a maior glória da Mãe de Deus – como se estivessem, por assim dizer, fazendo-lhe um presente; a ambição dos teólogos ocidentais que o defenderam e desenvolveram ficou satisfeita; e, sobretudo, a proclamação do novo dogma beneficiou o próprio trono romano, pois, tendo proclamado o dogma por sua própria autoridade – mesmo após ouvir as opiniões dos bispos da Igreja Católica – o Papa romano apropriou-se abertamente do direito de mudar os ensinamentos da Igreja e colocou sua voz acima do testemunho das Sagradas Escrituras e da Tradição. Daí decorre, diretamente, a conclusão de que os Papas romanos são infalíveis em matéria de fé, o que o próprio Papa Pio IX também proclamou como dogma da Igreja Católica em 1870.
Assim, a doutrina da Igreja ocidental mudou, afastando-se da comunhão com a verdadeira Igreja. Ela passou a introduzir ensinamentos cada vez mais inovadores, na intenção de exaltar ainda mais a verdade, mas, na realidade, distorcendo-a. Enquanto a Igreja Ortodoxa confessa humildemente o que recebeu de Cristo e dos apóstolos, a Igreja Romana ousa complementá-lo – às vezes com “zelo… não conforme à ciência” (Rm 10:2), às vezes desviando-se “para palavras vãs e contradições da falsamente chamada ciência” (1Tm 6:20). Não podia ser de outra forma; a promessa de que “as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja” (Mt 16:18) é destinada somente à verdadeira Igreja Universal, e as palavras “assim como o ramo não pode dar fruto por si só, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim” (Jo 15:4) se aplicam àqueles que se afastaram dela.
É certo que na própria definição do novo dogma se afirma que não se está instituindo um novo ensinamento, mas apenas proclamando como eclesiástico aquele que sempre existiu na Igreja – o mesmo ao qual aderiram muitos santos pais, cujas obras são citadas em trechos. No entanto, todas as menções anteriores falam apenas do alto honrar da Virgem Maria, de sua pureza, atribuindo-lhe muitos nomes que definem sua pureza e poder espiritual, mas em nenhum momento se menciona a pureza em sua concepção. Ao mesmo tempo, outros santos pais afirmam que somente Jesus Cristo está completamente livre de todo pecado, enquanto todos os homens, tendo nascido de Adão, possuem uma carne sujeita à lei do pecado.
Nenhum dos antigos santos pais afirma que Deus purificou milagrosamente a Virgem Maria enquanto ela ainda estava no ventre materno; muitos afirmam, de forma direta, que a Virgem Maria, como todas as pessoas, enfrentou lutas contra o pecado, mas saiu vitoriosa das tentações e foi salva por seu Divino Filho.
Os intérpretes da fé latina também afirmam que a Virgem Maria foi salva por Cristo, mas entendem isso no sentido de que Maria foi protegida da mancha da culpa original em razão dos méritos futuros de Cristo (conforme a bula sobre o dogma da Imaculada Conceição). Segundo esse ensinamento, Maria, como se desde então tivesse recebido o dom que Cristo trouxe aos homens por meio de seu sofrimento e morte na cruz, foi preservada – e, além disso, os tormentos que a Mãe de Deus suportou, estando ao lado da cruz de seu amado Filho, e, de modo geral, as dores que marcaram sua vida, são considerados um acréscimo aos sofrimentos de Cristo e de Maria, nossa Corredentora. De acordo com a interpretação dos teólogos latinos, “Maria está associada ao nosso Redentor, como Corredentora” (Cf. Lebedev, Ibid., p. 273); “Nas obras da redenção, ela ajudou, de algum modo, a Cristo” (Catecismo do Dr. Weimar); “A Mãe de Deus”, escreve o Dr. Lenz, “não apenas suportou o peso de seu martírio com coragem, mas também com alegria, ainda que com o coração despedaçado” (Mariologia do Dr. Lenz). Por isso, ela é chamada de “o complemento da Santíssima Trindade” e, “assim como seu Filho é o único Mediador escolhido por Deus entre Sua majestade ofendida e os homens pecadores, a Mediadora principal, colocada por Ele entre o Filho e nós, é a Santíssima Virgem”. “Três relações: Filha, Mãe e Esposa de Deus – a Santíssima Virgem é elevada a uma certa igualdade com o Pai, a uma certa superioridade sobre o Filho, a uma certa proximidade com o Espírito Santo” (Inmaculada Conceição, Malu, bispo de Bruges).
Assim, segundo os representantes da teologia latina, na obra da redenção a Virgem Maria se coloca junto a Cristo e é elevada quase à igualdade com Deus. Não há outro lugar para onde se possa ir. Se tudo isso ainda não foi formalizado definitivamente como dogma da Igreja Romana, então o Papa Pio IX, tendo dado o primeiro passo nesse sentido, indicou a direção para o desenvolvimento ulterior da doutrina geralmente reconhecida em sua igreja, confirmando indiretamente o ensinamento anteriormente mencionado sobre a Virgem Maria.
Dessa forma, a Igreja Romana, em seu desejo de exaltar a Santíssima Virgem, segue o caminho da completa deificação dela e, se já agora suas autoridades chamam Maria de complemento da Santíssima Trindade, logo poderemos esperar que a Virgem seja venerada como Deus.
O mesmo caminho foi trilhado por um grupo de pensadores que, embora ainda pertencessem à Igreja Ortodoxa, estavam construindo um novo sistema teológico, fundamentado na doutrina filosófica acerca da Sabedoria (Sophia), concebida como uma força especial que conecta o Divino e a criação. Desenvolvendo também o ensinamento sobre a dignidade da Mãe de Deus, pretendem ver nela um ser situado entre Deus e o homem. Em alguns aspectos, são mais moderados do que os teólogos latinos, mas, em outros, talvez já lhes levem vantagem. Embora neguem a doutrina da imaculada concepção e a remissão do pecado original, ensinam, contudo, a completa libertação de todos os pecados pessoais, vendo nela uma mediadora entre as pessoas e Deus, de modo semelhante a Cristo: na pessoa de Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade – o Verbo Eterno, o Filho de Deus – manifestou-se na terra, e o Espírito Santo se manifesta por meio da Virgem Maria.
Segundo um dos representantes desse movimento, com a morada do Espírito Santo, Maria adquiriu “uma vida dupla, humana e divina; isto é, está completamente deificada, de forma que, em sua existência hipostática, é uma revelação viva criada pelo Espírito Santo” (Arcipreste Sérgio Bulgákov, A Sarça Ardente, edição de 1927, p. 154), “é uma manifestação perfeita da Terceira Hipóstase” (ibid., p. 175), “uma criatura, mas já não uma criatura” (ibid., p. 191). Esse desejo de deificar a Mãe de Deus observa-se sobretudo no Ocidente, enquanto, por outro lado, diversas seitas de caráter protestante – juntamente com as principais vertentes do protestantismo, como o luteranismo e o calvinismo, que geralmente negam a veneração da Mãe de Deus e sua invocação em oração – têm obtido amplo sucesso.
Mas podemos dizer, usando as palavras de São Epifânio de Chipre: “Há igual dano em ambas as heresias, tanto quando humilham a Virgem quanto quando, ao contrário, a glorificam além do devido” (São Epifânio de Chipre, Panarion, contra os Collaridianos). O Santo Padre repreende aqueles que a cultuam de forma quase divina: “Honrai Maria e adorai o Senhor” (ibid.). “Embora Maria seja um instrumento escolhido, por natureza é uma mulher que não se diferencia das demais. Embora a história de Maria e a Tradição relatem que a seu pai Joaquim foi dito, no deserto, ‘Tua mulher concebeu’, isso não ocorreu sem união matrimonial e sem a descendência de um esposo” (São Epifânio de Chipre, Contra os Collaridianos). “Não devemos honrar os santos mais do que o devido, mas honrar o seu Senhor. Maria não é Deus e não recebeu seu corpo do céu, mas sim da união de marido e mulher e, segundo a promessa, como Isaque, foi preparada para participar da dispensação de Deus. Porém, que ninguém se atreva a insultar loucamente a Santíssima Virgem” (São Epifânio, Contra os Antidicomarionitas).
A Igreja Ortodoxa, embora exalte sobremaneira a Mãe de Deus em seus cânticos de louvor, não se atreve a atribuir-lhe nada que não esteja fundamentado nas Sagradas Escrituras ou na Tradição. “A verdade é alheia a todas as exagerações e depreciações: cada coisa deve receber sua justa medida e seu lugar apropriado” (Bispo Inácio Brianchaninov). Embora glorifiquem a condição imaculada da Virgem Maria e sua valente resistência aos sofrimentos de sua vida terrena, os Padres da Igreja, contudo, rejeitam a ideia de que ela se apresente como mediadora entre Deus e os homens no sentido de uma redenção conjunta da humanidade. Falando de sua disposição de morrer junto com seu Filho e de sofrer com Ele pela salvação comum, o célebre pai da Igreja ocidental, São Ambrósio, bispo de Milão, acrescenta: «Mas o sofrimento de Cristo não necessitava de ajuda, como o próprio Senhor previu muito antes: ‘Olhei, e não havia quem me ajudasse; considerei, e ninguém veio me socorrer’» (Is 63:5 – São Ambrósio, Da Educação da Virgem e da Sempre Virgindade de Santa Maria, cap. 7).
O mesmo santo ensina sobre a universalidade do pecado original, do qual somente Cristo é exceção. “De todos os nascidos de mulher, nenhum é completamente santo, exceto o Senhor Jesus Cristo, que, segundo a nova imagem especial do nascimento imaculado, não experimentou a corrupção terrena” (São Ambrósio, In Luc, sec. II). “Somente Deus está livre de pecado. Geralmente, todos os nascidos de uma esposa e um esposo, isto é, de uma união carnal, são culpados de pecado. Portanto, aquele que não tem pecado não foi concebido dessa maneira” (São Ambrósio, Ar. Aug. de nupcia et concepcione). “Um único homem, o Intercessor de Deus e dos homens, está livre dos vínculos do nascimento pecaminoso, porque nasceu da Virgem e, ao nascer, não experimentou o toque do pecado” (São Ambrósio, Contra Juliano, livro 2).
Outro célebre mestre da Igreja, especialmente venerado no Ocidente, o Beato Agostinho escreve: «Quanto aos demais homens, excluindo Aquele que é a pedra angular, não vejo outro caminho para que se tornem templos de Deus e morada de Deus, senão o renascimento espiritual, que necessariamente é precedido pelo nascimento físico. Assim, qualquer que seja o nosso pensamento acerca dos filhos no ventre de suas mães – mesmo a palavra do santo evangelista, que diz de João Batista que saltou de alegria no ventre de sua mãe (o que não ocorreu de outro modo senão pela ação do Espírito Santo), ou as próprias palavras do Senhor dirigidas a Jeremias: ‘Eu te santifiquei antes que saísses do ventre de tua mãe’ (Jer 1:5) – nos dariam, ou não, motivos para pensar que os filhos naquele estado pudessem ser capazes de alguma santificação; mas, em todo caso, é certo que aquela santificação pela qual, juntos e individualmente, nos tornamos templo de Deus é possível somente para aqueles que já renasceram, e esse renascimento pressupõe sempre o nascimento. Somente aqueles que já nasceram podem unir-se a Cristo e estar em comunhão com esse Corpo divino, que faz de Sua Igreja um templo vivo da majestade de Deus» (Beato Agostinho, Carta 187).
As palavras dos antigos mestres da Igreja testemunham que, no próprio Ocidente, o ensinamento que hoje se difunde foi rejeitado anteriormente. Mesmo após a apostasia da Igreja ocidental, Bernardo – reconhecido aí como uma grande autoridade – escreveu:
> “Estou horrorizado ao ver que alguns de vós desejais agora mudar o estado de coisas importantes, introduzindo uma nova celebração, desconhecida pela Igreja, desaprovada pela razão e injustificada pela antiga Tradição. Somos realmente mais sábios e mais piedosos que nossos pais? Dirás que é necessário glorificar ao máximo a Mãe do Senhor. Isto é certo; mas a glorificação dada à Rainha dos Céus exige distinção. Essa verdadeira Virgem não necessita de falsas glorificações, pois já possui verdadeiras coroas de glória e sinais de dignidade. Glorificai a pureza de sua carne e a santidade de sua vida. Maravilhai-vos com a abundância dos dons desta Virgem; adorai seu Divino Filho; exaltai Aquele que concebeu sem conhecer a luxúria e deu à luz sem conhecer a dor. Que mais pode ser acrescentado a esses méritos? Diz-se que deve ser honrada a concepção que precedeu o glorioso nascimento; porque, se a concepção não tivesse precedido, o nascimento não teria sido glorificado. Mas, o que diríamos se alguém, pela mesma razão, exigisse o mesmo tributo ao pai e à mãe de Santa Maria? Podem exigir o mesmo para seus avós e bisavós, e assim por diante. Além disso, como não poderia haver pecado onde há luxúria? Com maior razão não se deve dizer que a Santíssima Virgem foi concebida pela ação do Espírito Santo, e não pela ação do varão; afirmo com certeza que o Espírito Santo desceu sobre Ela, e não que veio com Ela.”
“Digo que a Virgem Maria não pôde ser santificada antes de sua concepção, pois ela não existia; e, ainda, se Ela não pôde ser santificada no momento de sua concepção – uma vez que o pecado é inseparável da concepção – então é necessário acreditar que Ela foi santificada somente depois de ter sido concebida no ventre de sua mãe. Essa santificação, se destrói o pecado, santifica o nascimento, mas não a concepção. Ninguém tem o direito de ser concebido em santidade. Somente o Senhor Cristo foi concebido pelo Espírito Santo, e somente Ele é santo desde a própria concepção. Excluindo-O, a todos os descendentes de Adão aplica-se o que um deles diz de si mesmo, seja por humildade ou por consciência da verdade: ‘porque eis que, em maldade, fui concebido’ (Sl 50:7). Como se pode exigir que essa concepção seja santa, se não foi obra do Espírito Santo – sem mencionar que advém da concupiscência? A Santíssima Virgem, por certo, rejeitará aquela glória que parece glorificar o pecado; “De forma alguma justificará uma novidade inventada contrária ao ensinamento da Igreja, novidade que é mãe da imprudência, irmã da incredulidade e filha da frivolidade” (Bernard, Epístola CLXXIV, citada, assim como a anterior – do Beato Agostinho – em Lebedev, Diferenças na Doutrina sobre a Santíssima Theotokos das Igrejas do Oriente e do Ocidente). As palavras citadas revelam claramente tanto a novidade quanto o absurdo do novo dogma da Igreja romana.

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