
Reflexões e Inspirações
February 8, 2025 at 03:04 PM
O Pecado de ser bom
Há algo curioso na forma como o mundo se desenha para aqueles que carregam bondade no peito. Eles andam pelas ruas, falam com gentileza, tratam os outros com respeito, oferecem ajuda mesmo quando nada lhes é pedido, mas, ao olhar ao redor, percebem que os caminhos que trilham parecem sempre mais estreitos, mais íngremes, mais solitários. Enquanto aqueles que vivem para si mesmos, que caminham com o ego inflado, indiferentes ao que está ao redor, seguem por estradas largas, confortáveis, pavimentadas com vantagens que nem mesmo precisaram pedir. O que define esse contraste? Não é a falta de esforço, porque os bons se dedicam. Não é a falta de inteligência, porque eles enxergam além do que muitos jamais verão. Não é a ausência de luta, porque cada dia para eles é uma batalha entre manter a pureza do coração e não ser engolido pelo cinismo do mundo. E, ainda assim, parece que a balança nunca pesa a favor deles. Se dão, muitas vezes não recebem. Se cuidam, frequentemente são descartados. Se se sacrificam, raramente são lembrados. Mas o mais estranho de tudo não é a injustiça em si. O que mais intriga é a forma como essas pessoas continuam. Como seguem sorrindo, mesmo quando ninguém se importa. Como oferecem um ombro para quem um dia pode apunhalá-los. Como encontram forças para continuar tentando, mesmo quando o mundo parece projetado para quebrá-los. Eles não buscam recompensa, não esperam reconhecimento, mas, no fundo, sabem que a vida raramente devolverá a eles na mesma medida. E talvez o pior não seja a falta de gratidão, mas o silêncio. Porque quando caem, quando desabam, quando precisam de alguém, muitas vezes não há ninguém ali. E se houver, será alguém com um olhar de julgamento, palavras de crítica, conselhos vazios. Como se o erro estivesse em serem bons demais, em acreditarem demais, em sentirem demais. O que faz alguém seguir em frente nesse cenário? O que impede que se tornem iguais àqueles que não se importam? Talvez seja uma força invisível, uma necessidade de continuar sendo quem são, porque mudar seria perder uma parte essencial de si mesmos. Ou talvez seja simplesmente porque não sabem ser de outra forma. A bondade não é uma escolha racional, não é uma estratégia, não é uma troca. É uma essência. Algo que, mesmo ferido, mesmo desgastado, mesmo rejeitado, continua ali. E o mais impressionante de tudo é que, apesar de tudo, essas pessoas ainda encontram felicidade. Não aquela felicidade vistosa, feita de conquistas materiais, de status ou de reconhecimento. Mas uma felicidade silenciosa, que vem de ver alguém sorrir, de saber que fizeram algo por alguém, mesmo que nunca recebam nada de volta. Eles encontram alegria naquilo que os outros desprezam: em momentos pequenos, em gestos esquecidos, em palavras que nunca serão retribuídas. Talvez essa seja a verdadeira força dessas pessoas. Não a capacidade de suportar, mas a de continuar amando, mesmo em um mundo que muitas vezes não retribui esse amor. Não a resistência às dores, mas a habilidade de transformar dor em aprendizado, em empatia, em algo que pode, de alguma forma, tornar o mundo um pouco menos frio, um pouco menos indiferente. E enquanto os que vivem para si mesmos acumulam conquistas visíveis, os bons constroem algo que ninguém pode tocar, medir ou roubar: um legado de humanidade, que mesmo esquecido, mesmo ignorado, permanece como uma chama invisível, que nunca se apaga completamente.
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