Autor Ismael Faria
Autor Ismael Faria
February 3, 2025 at 03:32 AM
Entre a Razão e a Emoção No encontro com sua irmã Lara mexia distraidamente na colherzinha que acompanhava o cappuccino. O aroma quente e adocicado subia até suas narinas, mas sua mente estava longe dali. Letícia, sentada à sua frente, a observava com um meio sorriso, conhecendo bem aquela expressão. — Você está com essa cara de quem quer me contar algo — Letícia disse, pousando a xícara no pires. Lara ergueu os olhos e sorriu, respirando fundo antes de falar: — Eu conheci alguém. A irmã arqueou uma sobrancelha. — Ah, é? E quem é o sortudo? Lara riu baixo, mordendo o lábio antes de responder: — Laysa. Letícia piscou algumas vezes antes de soltar uma risadinha. — Uau! Isso é inesperado... mas não exatamente chocante. Afinal, vivemos em uma sociedade livre, não é? Lara relaxou um pouco ao ouvir a naturalidade na voz da irmã. Não sabia bem o que esperava, talvez um olhar de julgamento, mas Letícia sempre fora mente aberta. — Tivemos dois encontros. Foi... diferente de tudo que eu já vivi. Letícia apoiou o queixo na mão, inclinando-se levemente sobre a mesa. — E agora? O que você pretende fazer? Como vai ser manter essa vida e cuidar das crianças? Lara deu um longo gole no cappuccino antes de responder: — Nada vai mudar. Meus filhos continuam sendo minha prioridade. Mas eu não vou mais me furtar. Letícia franziu a testa. — Se furtar? Lara assentiu, sentindo um peso sair de seus ombros ao dizer as palavras em voz alta. — Passei anos sendo a esposa ideal, a mãe perfeita, esquecendo de mim no processo. Agora, eu quero viver. E se viver for ter prazer na cama, eu quero viver intensamente. Letícia sorriu, pegando a mão da irmã por cima da mesa. — Então viva, Lara. Você merece isso. As duas ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Letícia mudou de tom. — Mas e o divórcio? Você já pensou nos detalhes? Lara suspirou, encostando-se na cadeira. — Ainda estamos conversando. Adolfo não quer brigas. — Isso é bom. Mas saiba que ele deve pleitear a guarda compartilhada dos meninos — Letícia disse, firme. Lara assentiu. — Acho justo. Ele é um excelente pai. Nunca tiraria isso dele. — Então vocês precisam formalizar tudo corretamente. Eu posso te ajudar com isso, se quiser. Lara sorriu, sentindo-se aliviada por ter Letícia ao seu lado. — Obrigada. Acho que vou precisar. As duas seguiram conversando, enquanto Lara sentia, pela primeira vez em muito tempo, que estava realmente no controle de sua vida. Lara suspirou, recostando-se na cadeira. Falar sobre o divórcio tornava tudo mais real, mas não a assustava. Pelo contrário, sentia-se mais leve. Letícia percebeu a mudança no semblante da irmã e sorriu. — Você está diferente — comentou, cruzando os braços sobre a mesa. — Mesmo no meio dessa tempestade, parece mais... viva. Lara riu baixinho, mexendo distraidamente no anel que ainda usava. — Porque eu estou. Pela primeira vez em anos, sinto que sou eu mesma. — E o que isso significa? Lara ergueu os olhos para a irmã e, sem hesitar, respondeu: — Significa que não vou mais me esconder. Que vou me permitir sentir, experimentar, viver. Letícia arqueou uma sobrancelha, divertida. — Então me conta... como foi com Laysa? Lara mordeu o lábio, um leve rubor subindo ao rosto. — Foi intenso. Natural. Como se meu corpo já soubesse o caminho, mesmo sem nunca ter estado ali. Letícia observou a irmã por alguns segundos, antes de sorrir. — E o que você quer daqui para frente? Lara respirou fundo antes de responder: — Quero descobrir. Sem pressa, sem rótulos, sem culpa. Letícia assentiu, tomando um gole de café antes de falar: — Você sempre foi tão dedicada aos outros, sempre se preocupando com Adolfo, com as crianças, com todo mundo. Acho que é a primeira vez que te vejo colocando a si mesma em primeiro lugar. Lara sorriu, sentindo uma pontada de emoção nas palavras da irmã. — E sabe o que é mais engraçado? Não me sinto culpada. Achei que me sentiria, mas não. — Nem deveria. Você merece isso, Lara. O olhar das duas se encontrou, e Lara soube que, apesar de todas as mudanças, não estava sozinha. Letícia olhou o relógio e suspirou. — Preciso ir. Tenho uma reunião no escritório em meia hora. Lara sorriu, segurando a mão da irmã por um instante. — Obrigada por me ouvir. — Sempre, Lara. E qualquer coisa sobre o divórcio, me avise. Elas se despediram com um abraço apertado. Assim que Letícia saiu, Lara pegou o celular e viu uma mensagem de Jéssica: "Mãe, você vem para o almoço?" Lara sorriu. Apesar de tudo que estava acontecendo, sua prioridade continuava sendo os filhos. Respondeu rapidamente um "Claro, estou indo!" e seguiu para casa. Quando chegou, encontrou Andreas na sala, assistindo a um desenho, e Jéssica ajudando a organizar a mesa. — Oi, meus amores! — Lara disse, tirando o casaco. — Oi, mãe! — Andreas correu até ela para um abraço. Jéssica olhou para a mãe com uma expressão de leve desconfiança. — Onde você estava? — Fui tomar um café com sua tia Letícia — respondeu Lara, pegando pratos para ajudar a filha. — Assunto sério? — Jéssica perguntou, ajeitando os talheres. Lara riu. — Desde quando você virou minha investigadora particular? — Desde que as coisas começaram a mudar aqui em casa — Jéssica rebateu, rindo. Lara suspirou, sentando-se à mesa. Andreas se juntou a elas, e por alguns instantes, apenas aproveitaram o almoço. Mas a filha mais velha não parecia disposta a deixar o assunto de lado. — Então, mãe... Você e o papai vão mesmo se divorciar? Lara limpou a boca com o guardanapo antes de responder. — Sim, filha. Mas quero que vocês saibam que isso não significa que vamos virar inimigos. Eu e seu pai ainda seremos uma família, só que de uma maneira diferente. Andreas franziu a testa. — Diferente como? — Bom, seu pai deve pedir a guarda compartilhada. Isso significa que vocês vão passar um tempo comigo e um tempo com ele. Jéssica cruzou os braços. — Mas isso quer dizer que a gente vai ficar mudando de casa toda hora? Lara sorriu, tentando acalmar a filha. — Não vai ser tão complicado quanto parece. Vamos organizar para que tudo seja o mais tranquilo possível para vocês. Vocês terão dois lares, e não importa onde estejam, sempre terão o amor do pai e da mãe. Andreas brincava com o garfo, pensativo. — O papai concorda com isso? — Sim. Ele também quer que vocês fiquem bem. Jéssica suspirou e olhou para o irmão antes de voltar os olhos para a mãe. — Eu só quero que a gente continue sendo uma família. Lara estendeu a mão sobre a mesa, segurando a de Jéssica e de Andreas. — E sempre seremos. O silêncio tomou conta por um momento, até Andreas quebrá-lo com uma pergunta mais leve. — Mãe, posso escolher um dia para dormir na casa do papai e um dia para dormir aqui? Lara riu, aliviada pela leveza na voz do filho. — Vamos conversar sobre isso. Mas sim, quero que vocês tenham essa liberdade. O almoço seguiu com uma sensação de proximidade, como sempre acontecia. Lara sabia que não seria fácil, mas sentia que estava no caminho certo. O escritório estava movimentado naquela tarde. Lara digitava rapidamente um relatório enquanto ouvia o burburinho de conversas ao fundo. O trabalho era uma parte de sua rotina que permanecia inalterada, um ponto de equilíbrio em meio às mudanças de sua vida pessoal. Por um instante, ela se permitiu relaxar. Levantou-se, pegou sua xícara e foi até a máquina de café. O aroma quente e familiar trouxe uma sensação de conforto. Então, o celular vibrou em cima da mesa. Lara pegou o aparelho, desbloqueando a tela sem pensar. Seu coração bateu um pouco mais forte ao ver o nome de Laysa iluminado na tela. *"Estou pensando em você. Querendo você."* Lara mordeu o lábio, sentindo um calor diferente se espalhar por seu corpo. O café esfriava em suas mãos, mas sua mente já não estava mais ali. Ela respirou fundo antes de responder. Lara sentiu um arrepio percorrer sua pele. Laysa era direta, intensa. Ela olhou ao redor, certificando-se de que ninguém prestava atenção, e digitou com os dedos levemente trêmulos: *"E o que você faria comigo se eu estivesse aí agora?"* Ela hesitou por um segundo antes de apertar "enviar". Seu coração disparou, a respiração ficou mais curta. A tarde de trabalho, que antes parecia equilibrada e monótona, agora tinha um novo sabor: o da expectativa. Ao chegar em casa à noite, Lara estava cansada, mas ao ver seus filhos, o cansaço se dissipava. Ela se aproximou de Jéssica, que estava lendo em seu quarto, e deu-lhe um beijo suave na testa. Depois fez o mesmo com Andreas, que estava deitado, com os olhos semicerrados, ainda assistindo à TV. Com um suspiro de alívio, Lara foi até o banheiro. Precisava relaxar. Quando estava prestes a entrar no chuveiro, o celular vibrou. Era a mensagem de Laysa. *"O que você está fazendo agora?"* Lara sorriu e, com um toque provocante, respondeu: *"Vou tomar um banho morno para relaxar... Se quiser, pode fazer companhia."* Ela sabia que a resposta a isso seria imediata. Não demorou para o celular vibrar de novo. "E como você vai relaxar, exatamente?" Lara mordeu o lábio, se divertindo com a tensão crescente. Ela respondeu de forma mais ousada: "Talvez me deixe bem à vontade, quem sabe?" A resposta não demorou. *"Me manda um vídeo do banho, quero ver o quanto você está relaxando."* Lara ficou paralisada por um instante, o calor subindo até seu rosto. Ela sabia que estava flertando com o perigo, mas o desejo que sentia pela mulher a deixava sem freios. Ela pensou por um momento. O que faria? Durante o banho, pensamentos tomavam conta da mente de Lara. Eram pensamentos livres, de uma fase que ainda estava apenas começando. 続く Autor Ismael Faria DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.
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