
• davi •
June 1, 2025 at 11:35 AM
https://www.nytimes.com/2019/06/26/opinion/global-economy-cannes.html
*O Último Banquete dos Deuses: Reflexões sobre Cannes e o Fim de uma Era*
Há algo profundamente melancólico em assistir aos últimos atos de uma peça que não sabe que chegou ao fim. Cannes Lions, com toda sua pompa dourada e palmeiras coreografadas, tornou-se este espetáculo involuntário - um museu vivo de uma era que insiste em não perceber sua própria obsolescência.
Sentado em frente às telas que transmitem as premiações, observo rostos bronzeados celebrando campanhas que parecem ecos de um tempo que já não existe. Enquanto o mundo queima literalmente e figurativamente, enquanto algoritmos de iA reescrevem as regras do • engage • humano, enquanto desigualdades crescem como fissuras numa parede prestes a desabar, Cannes permanece como uma ilha de irrelevância dourada.
_A Dissonância do Cristal_
É desconcertante presenciar a desconexão. Do lado de fora, protestos climáticos. Dentro dos salões, campanhas que vendem sonhos de consumo que sabemos serem insustentáveis. Lá fora, gerações inteiras questionando o próprio conceito de propriedade. Aqui dentro, celebramos a genialidade de fazer pessoas desejarem coisas de que não precisam.
Esta não é apenas uma questão de timing inadequado. É a manifestação física de um sistema nervoso desconectado do corpo que deveria comandar. Cannes tornou-se o braço fantasma de uma indústria que perdeu sua função original sem perceber.
_O Crepúsculo dos Gigantes_
Quando observo Cannes ao lado de Davos, vejo duas faces da mesma moeda em queda livre. Ambos são rituais de uma classe que governou por duas décadas de globalização desenfreada, agora assistindo perplexa ao ressurgimento de forças que julgava ter domesticado: o nacionalismo feroz, a desconfiança nas instituições, a fome por autenticidade numa era de artifício total.
Estes eventos tornaram-se cerimônias fúnebres prematuras. Os participantes ainda respiram, ainda há networking, ainda acreditam estar moldando o futuro. Mas a verdade nua e crua é que estão celebrando a morte de uma ordem mundial que eles mesmos ajudaram a enterrar.
_A Revolução Silenciosa da iA_
E então surge a iA - não como uma ferramenta, mas como uma força tectônica que redefine cada premissa sobre criatividade, sobre trabalho, sobre valor humano. Enquanto Cannes debate se uma campanha feita por máquinas pode ganhar um Leão, a iA já está reescrevendo as regras do jogo de forma tão fundamental que as categorias do festival podem se tornar tão relevantes quanto prêmios para best practice em máquinas de escrever.
A ironia é cruel: uma indústria que sempre se orgulhou de antever o futuro agora está desesperadamente agarrada a um passado que escorrega entre seus dedos manicurados.
_O Nascimento do Novo_
Mas há beleza na destruição criativa. Enquanto os deuses do marketing traditional encenam seus últimos banquetes, uma nova geração de criadores emerge das periferias - pensadores que compreendem que criar não é mais sobre vender produtos, mas sobre construir significado numa era de abundância material e escassez espiritual.
Estes novos artesãos da persuasão não precisam de leões dourados para validar seu impacto. Eles medem sucesso em mudança real, em conexões autênticas, em transformações que transcendem métricas de • engage •.
_A Dança Final_
Cannes continuará por alguns anos mais, como todas as instituições mortas que demoram para perceber sua condição. Haverá ainda champagne, ainda networking, ainda discursos sobre "o futuro da criatividade". Mas será apenas a dança final de uma era que já expirou.
O verdadeiro futuro está sendo escrito por aqueles que nunca pisaram na Croisette - programadores de iA que não sabem nada sobre advertising, ativistas que transformam movimentos em marcas, criadores que entendem que a próxima revolução criativa não será sobre fazer pessoas comprarem coisas, mas sobre ajudá-las a descobrir quem realmente são.
Esta transformação não é apenas sobre tecnologia ou economia. É sobre consciência. E consciência, diferentemente de leões dourados, não pode ser premiada. Apenas vivida.
ousadia criativa. precisão estratégica. – por kim.