
Devocional do Abreu 📜
May 21, 2025 at 02:18 PM
A Trindade no Antigo Testamento
“O Antigo Testamento não ensina clara e diretamente sobre a Trindade, e a razão é evidente. Num mundo em que o culto de muitos deuses era comum, tornava-se necessário acentuar para Israel a verdade de que Deus é um e que não havia outro além dele. Se no princípio a doutrina da Trindade fosse ensinada diretamente, ela poderia não ser bem compreendida nem bem interpretada.
Muito embora essa doutrina não fosse explicitamente mencionada, sua origem pode ser encontrada no AT. Sempre que um hebreu pronunciava o nome de Deus (Elohim), ele estava realmente dizendo “Deuses”, pois a palavra é plural e no hebraico às vezes vem acompanhada de adjetivo plural (Js 24:18,19) — no português isso não é perceptível, mas no hebraico fica claro; a palavra para santo é qedoshim, uma forma plural e majestática, comumente usada para Deus (Elohim) — e com verbo no plural (Gn 35:7) — o verbo para “revelado” no hebraico está no plural também, para concordar com o sujeito Elohim (Deus).
Imaginemos um hebreu devoto e esclarecido ponderando o fato de que Jeová é um e, no entanto, é Elohim — “Deuses”. É fácil imaginar que ele chegue à conclusão de que exista pluralidade de pessoas dentro de um Deus. Paulo, o apóstolo, nunca cessou de crer na unidade de Deus, conforme lhe fora ensinada desde a mocidade (1Tm 2:5; 1Co 8:4). Paulo, de fato, insistia em que não divulgava outros ensinos senão aqueles que se encontravam na Lei e nos Profetas. Seu Deus era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. No entanto, pregava a divindade de Cristo (Fp 2:6-8; 1Tm 3:16) e personalidade do Espírito Santo (Ef 4:30), e incluiu as três pessoas na benção apostólica (2Co 13:14).
Todos os membros da Trindade são mencionados no AT: 1) o Pai (Is 63:16; Ml 2:10); 2) o Filho de Jeová (Sl 2:6,7,12; 45:6,7 (o autor aos Hebreus aplicou esses versículos a Jesus, o Messias); Pv 30:4): o Messias é descrito com títulos divinos (Jr 23:5,6; Is 9:6); faz-se menção ao misterioso Anjo do Senhor que leva o nome de Deus e tem poder tanto para perdoar quanto para reter os pecados (Êx 23:20,21); 3) o Espírito Santo (Gn 1:2; Is 11:2,3; 48:16; 61:1; 63:10).
Prenúncios da Trindade veem-se na tríplice benção de Números em 6:24-26 e na tríplice doxologia de Isaías 6:3.” Texto retirado do livro Conhecendo as Doutrinas da Bíblia de Myer Pearlman.
Por que Números 6:24-26 seria prenúncio da Trindade? Foi a pergunta que me fiz quando fui ler o texto, então fui pesquisar.
O primeiro ponto para esclarecimento está na estrutura da benção, chamada de estrutura triádica: a benção é composta por três partes distintas, cada uma começando com o nome do Senhor e descrevendo diferentes ações (abençoar e guardar; fazer resplandecer o rosto e conceder graça; levantar o rosto e dar paz). Alguns teólogos associam essa tríade à Trindade, sugerindo que as três partes refletem as três pessoas da Trindade.
Primeira parte (“te abençoe e te guarde”): Associada ao Pai, que é visto como o provedor e protetor.
Segunda parte (“faça resplandecer o seu rosto e te conceda graça”): Associada ao Filho, que revela a luz de Deus e concede graça (veja João 1:17).
Terceira parte (levante o seu rosto e te dê paz): Associada ao Espírito Santo, que traz paz e comunhão (veja Gálatas 5:22).
Essa interpretação, porém, não pode ser considerada literal, pois o texto bíblico não menciona explicitamente três pessoas divinas no ato da benção. Mas, ao longo da história, alguns cristãos, como Santo Agostinho, viam alusões à Trindade em textos como esse. Segundo a perspectiva desses cristãos, a repetição tripla de SENHOR (YHWH) é interpretada como um reflexo das três pessoas da Trindade, todas compartilhando a mesma essência divina. As ações descritas (abençoar, iluminar, conceder paz) são associadas às funções das três pessoas da Trindade no plano de salvação. No Novo Testamento, a fórmula trinitária em Mateus 28:19 (“em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”) é às vezes comparada a bençãos triádicas como a de números 6:24-26, reforçando a ideia de que ela pode ser um prenúncio da Trindade.
É importante salientar que existem limitações de interpretação, porque o texto hebraico não contém qualquer menção a “Pai”, “Filho” ou “Espírito Santo”. O conceito de Trindade é um desenvolvimento teológico posterior, plenamente articulado no cristianismo para tentar explicar, dentro do humanamente possível, a unidade de Deus em conformidade com as três pessoas que são mencionadas na Bíblia como sendo Deus, além de ser uma resposta fundamentada na Escritura para lidar e evitar heresias. Embora a Palavra “trindade” não exista na Bíblia, a percepção de que há um Deus em três pessoas com a mesma essência se torna clara para quem a lê com atenção. Júpiter estava lá quando ninguém o havia percebido e identificado; a Trindade existe antes de Júpiter!
Assim, o texto-base desse devocional não é uma alusão literal à trindade, embora seja possível e saudável fazer uma leitura retrospectiva com as lentes da cristologia, por assim dizer, que se apresenta, neste caso, como a busca por “encontrar” ou “descobrir” Cristo nos textos do Antigo Testamento.
1581.
20.05.2025.
Soli Deo Gloria.
❤️
1