Devocional do Abreu 📜
Devocional do Abreu 📜
June 3, 2025 at 03:17 PM
Passagens do AT que falam sobre a tensão soberania divina-responsabilidade humana Texto-base: 2Samuel 24 (cf. 1Cr 21:1-7). “A maioria dos comentaristas relaciona 2Samuel 24:1 a 1Crônicas 21:1-14, quando Yahweh ordena uma primeira punição. A razão pela qual a ira de Yahweh mais uma vez está acesa contra Israel não é esclarecida, embora alguns pensem que ela esteja ligada ao incidente de Bate-Seba. Também não está muito claro de que maneira Davi pecou nesse episódio. Não há nenhuma dúvida, no entanto, de que sua ação em comandar o censo o torna moralmente culpado (cf. 24:10,17). A soberania divina não funciona para reduzir a responsabilidade humana; Davi não é menos culpado por ser o próprio Yahweh quem o incita a contar Israel. “A linguagem não deixa dúvidas […] de que Deus incita os homens a fazerem aquilo pelo que os castiga mais tarde.”(H. P. Smith, comentando os livros de Samuel). Talvez possamos supor, baseados no padrão de 2Samuel 21:1-14, que a ação de Yahweh em 24:1 é judicial; de qualquer modo, nenhuma culpa moral pode ser atribuída ao próprio Yahweh. No entanto, o ponto a ser observado é a maneira pela qual a soberania divina e a responsabilidade humana estão aqui inter-relacionadas. Ao contrário das teorias que veem a soberania divina e a responsabilidade humana como mutuamente limitantes, a primeira, aliás, não atenua a segunda, enquanto a segunda não limita de maneira alguma a primeira. Buscar apoio em 1Crônicas 21:1 não ajuda. O fato de ser Satanás, não Yahweh, quem aqui se levanta e incita Davi a fazer o censo do povo fez com que não poucos estudiosos vissem um desenvolvimento teológico: o cronista “não podia mais suportar essa grande tensão teológica”. Que há tanto um desenvolvimento quanto uma perspectiva teológica diferente é inegável; mas a alegação de que a mudança de Yahweh para Satanás faz parte desse desenvolvimento é mais duvidosa. Em si, naturalmente, o texto de 1Crônicas 21:1 não manifesta tensão; mas os primeiros leitores, juntando 2Samuel 24:1 e 1Crônicas 21:1, encontrariam na mudança de Yahweh para Satanás nem mais nem menos problemas do que nos dois primeiros capítulos de Jó. Para alguns, a diferença de perspectiva torna-se clara assim que nos lembramos de que somente 2Samuel 24 oferece o pano de fundo para a construção do Templo. Esse fato por si mesmo seria suficiente para ligar a gênese da ação ao próprio Yahweh: o governo secreto de Deus nos bastidores da história objetiva deixa claro que é Yahweh, e não Davi, quem escolhe o local do Templo. O resultado final da questão é uma grande nomeação redentora, e nenhuma ofensa humana poderia ser o gatilho final para liberar um presente tão grandioso.” — D. A. Carson, Soberania Divina e Responsabilidade humana, páginas 28-29. Carson analisa o episódio do recenseamento, onde o pecado de Davi (orgulho ou confiança em sua força militar) leva ao julgamento divino (peste). No entanto, a misericórdia de Deus intervém quando Davi oferece um sacrifício no terreno de Araúna (ou Ornã), onde a peste é detida (2Samuel 24:18-25; 1Crônicas 21:18-27). Esse local, a eira de Araúna, é identificado em 2Crônicas 3:1 como o futuro local do Templo de Salomão no Monte Moriá. Carson chama isso de “grande nomeação redentora” porque esse evento, apesar de originado no pecado humano, é soberanamente usado por Deus para estabelecer o local do Templo, que prefigura a redenção final em Cristo. O Templo, construído no local onde a ira de Deus foi aplacada pelo sacrifício, simboliza a reconciliação entre Deus e seu povo. O sacrifício de Davi na eira de Araúna é um ato de expiação que aponta para a necessidade de um sacrifício maior. O Templo é uma sombra do sacrifício final de Cristo, que traz redenção definitiva (Hebreus 9:11-12). Assim, a “nomeação” do local do Templo é redentora porque antecipa a obra de Cristo. Carson enfatiza que, embora o pecado de Davi tenha sido a ocasião para o julgamento, a soberania de Deus transforma essa ofensa em uma oportunidade para revelar seu plano redentor. A “grande nomeação redentora” reflete como Deus, em sua graça, usa até mesmo o pecado humano para cumprir seus propósitos salvíficos, culminando no estabelecimento do Templo como um centro de adoração e expiação. Deus é o soberano na história da humanidade. Sim, é Ele quem incita Davi a fazer o censo, mas não com propósitos maus nem atenuando ou minimizando a responsabilidade e culpa de Davi, pois o pecado estava no rei. Como visto na causalidade dupla, que citarei tantas vezes quanto forem precisas a fim de fixação e clareza, a causa primária de todas as coisas é Deus, e a secundária são os homens e Satanás (1Cr 21:1) neste caso. Enquanto causa secundária, Davi, em sua liberdade e responsabilidade, decidiu fazer um senso do povo de Israel, manifestando assim o seu orgulho ou confiança em sua força militar; as Escrituras são claras ao afirmar sua culpa nisto, pois a soberania de Deus não anula suas decisões voluntárias e possíveis consequências. Enquanto isso, Deus trabalha (como causa primária) através das decisões humanas (causas secundárias) para manifestar e colocar em prática seu plano de redenção. Desde o princípio, o desígnio de Deus era manifestar misericórdia para com o povo de Israel e escolher o local do Templo. Como Carson disse “nenhuma ofensa humana poderia ser o gatilho final para liberar um presente tão grandioso”. O próprio desígnio de Deus foi quem liberou tamanha benção, não o pecado de Davi. 1596. 03.06.2025. Soli Deo Gloria.

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