Passagens do AT que falam sobre a tensão soberania divina-responsabilidade humana Texto-base: 1Reis 8:57-60. “A oração de Salomão na dedicação do templo (8:22) enfatiza repetidamente a responsabilidade do povo de se arrepender e se desviar de seus caminhos perversos. Especialmente de 8:31 em diante, a súplica feita ao Deus a quem o céu dos céus não pode conter (8:27) é que ele responda favoravelmente ao arrependimento do povo. Essas palavras colocam de forma clara a responsabilidade do arrependimento diretamente sobre os ombros das pessoas. No entanto, os versículos finais soam uma nota diferente. Em 8:57-60, o pedido é para que Deus trabalhe no coração de seu povo de modo que ele siga os caminhos de Deus. É claro que o fato de Yahweh inclinar o coração do povo para ele não é uma desculpa em potencial para a indolência pessoal, mas funciona como um incentivo para inteira devoção e obediência (1Rs 8:61).” — D. A. Carson, Soberania Divina e Responsabilidade Humana, páginas 29-30. Antigamente, havia uma tensão não harmonizada na minha mente: é Deus quem me leva ao arrependimento ou eu que me arrependo sozinho? O esclarecimento está no “sozinho”. As duas premissas são verdadeiras e não são opostas ou excludentes: 1) é Deus quem me leva ao arrependimento; 2) sou eu quem me arrependo, mas não sozinho, sem a ação de Deus. Imagine uma criança de 4 anos, pequena e fraca comparada a um adulto. Imagine essa criança com o pai. Nessa ilustração há uma cesta e uma bola de basquete. A cesta está há 2 metros de altura. A criança de 4 anos nunca conseguirá acertar a bola na cesta, pois ela não tem condições favoráveis para isso. É o pai quem lhe dá as condições favoráveis, levantando a criança até à altura da cesta, para que consiga fazer a bola passar por ela. Quem fez a cesta: o pai ou a criança? Obviamente, foi a criança, mas sem o auxílio primário do pai, ela jamais conseguiria. Igualmente, quem se arrepende não somos nós? Óbvio que sim! Mas é o Pai celestial quem nos dá as condições necessárias para isso. É Ele quem nos leva ao arrependimento e nos dá as condições necessárias para a santificação. Assim, as duas premissas são verdadeiras, como dito: Deus nos leva ao arrependimento e nós nos arrependemos. Outra vez falamos de soberania divina e responsabilidade humana. Deus é a causa primária de todas as coisas, e nós, a secundária. Uma não anula a outra, embora a segunda dependa da primeira. Mas o fato de Deus, em sua soberania, nos levar ao arrependimento não exime a nossa responsabilidade de buscar o arrependimento e a mudança. Como salientou D. A. Carson, deve, em contrapartida, nos fazer reconhecer nossa necessidade e dependência da graça divina, tanto para o reconhecimento da necessidade de arrependimento quanto para a mudança e para a obediência e devoção. “Faça que, de coração, nos voltemos para ele, a fim de andarmos em todos os seus caminhos e obedecermos aos mandamentos, estatutos e ordenanças que ele deu aos nossos antepassados.” (1Reis‬ ‭8‬:‭58‬). É Deus quem faz que, de coração, nos voltemos para Ele e andemos em todos os seus caminhos, mas isso não exime a nossa responsabilidade. Em vez disso, nossa responsabilidade é aumentada, uma vez que não devemos resistir à voz do Espírito Santo nem andar nas obras da carne, como outrora andamos sem arrependimento. 1598. 05.06.2025. Soli Deo Gloria.