
Devocional do Abreu 📜
June 11, 2025 at 11:36 AM
Passagens do AT que falam sobre a tensão soberania divina-responsabilidade humana
Texto-base: Isaías 10:5-19.
“Essa passagem palpita de tensão. Por um lado, a soberania de Yahweh sobre as nações é destacada nos termos mais absolutos. Ele é quem envia a Assíria contra seu povo para puni-lo por sua maldade. Ele manipula nações da mesma maneira que homens manipulam ferramentas (10:15); portanto, é o cúmulo da arrogância supor que se pode agir independentemente dele. Pode a madeira sem vida erguer “… o que não é madeira”? Pode a Assíria, humana e finita, mover Deus?
Mas isso nos leva ao outro lado da questão. É possível que o profeta acredite que a Assíria tenha extrapolado sua comissão (10:7), mas isso é, na melhor das hipóteses, um ponto secundário. O crime realmente hediondo da Assíria, para o qual deve haver uma consideração mais rigorosa, é o fato de se congratular por sua independência. A notória arrogância do rei não reconhece a verdadeira fonte da força da Assíria: o próprio Yahweh (10:13).
O problema de como interpretar os papéis desempenhados por Yahweh e pela Assíria é crucial. É claro que o fato de Yahweh usar a Assíria não significa honra para essa nação; no entanto, é inadequado dizer, como faz Rowley, que Deus escolheu uma nação como a Assíria para sua tarefa punitiva simplesmente porque viu que “a própria maldade de seu coração os levaria ao curso de ação que ele poderia usar”. As expressões empregadas não fazem Deus assim tão secundário e contingente. No entanto, a advertência de Calvino é bem apropriada: “Não devemos supor que haja uma compulsão violenta, como se Deus os arrastasse contra a vontade deles; mas, de uma maneira maravilhosa e inconcebível, ele regula todos os movimentos dos homens, de modo que eles ainda retêm o exercício de sua vontade”. Aliás, a Assíria será condenada por causa do autoengrandecimento que existe no cerne de sua vontade. A partir dessa passagem, pode-se quase concluir que a Assíria não teria sofrido nenhum castigo se tivesse adotado um humilde espírito de servo em relação a Yahweh. Ao mesmo tempo, o consolo proporcionado aos israelitas pela certeza da soberania de Yahweh sobre seus opressores ajuda a manter sua própria punição em perspectiva.
Nesse acontecimento, Isaías consegue separar os papéis de Yahweh e da Assíria. O que essa divisão faz não é tanto mostrar que o acontecimento total é a soma dos papéis componentes dos dois atores, mas afirmar a soberania transcendente e inflexível de Deus sobre a história e a responsabilidade de todas as suas criaturas, incluindo os reis estrangeiros, de reconhecê-lo como soberano: tudo isso sem o benefício de uma explicação de harmonização conveniente. As ações e motivos históricos da Assíria são entendidos como fatos importantes que dão fundamento para sua punição. Contudo, essa importância não reside em alguma ação que escapa à esfera da soberania divina.
Essa abordagem da tensão soberania-responsabilidade não é única: cf. 2Reis 19:25; Isaías 30:28; 37:22; 44:24—45:13; Jeremias 25:12; 50–51.” — D. A. Carson, Soberania Divina e Responsabilidade Humana, páginas 30-31.
Deus é soberano, e é preciso reconhecermos isso. Crentes ou não crentes não podem ser arrogantes ou achar que Deus está em contingência, esperando nós agirmos para então agir também. Antes, Ele, em sua soberania, ordena os fatos e desenvolve a história, sem anular o exercício da nossa vontade. O que fazemos consiste na nossa vontade, mas não foge do que Deus determinou. No entanto, não há determinismo nem fatalismo nisto porque somos agentes livres e responsáveis e não somos coagidos ou arrastados por Deus para fazer o que Ele designou, como no caso da Assíria. Mas, quando fizermos o que Ele deseja, também não podemos ensoberbecer, pois o castigo para o orgulho é a queda, como vemos no texto de Isaías.
1603.
10.06.2025.
Soli Deo Gloria.