Passagens do AT que falam sobre a tensão soberania divina-responsabilidade humana Texto-base: Jeremias 29:10-14. “Yahweh promete visitar os exilados na Babilônia ao final de setenta anos, cumprir sua palavra e trazê-los de volta à terra. Tudo isso vem de seus planos para o bem-estar de seu povo, não para a calamidade (29:10s.). Ele será encontrado por seu povo e restaurará sua sorte (29:14). Mas os versículos 12s. põem o ônus da responsabilidade sobre o chamado, a vinda, a oração e a busca do povo. É verdade que alguns comentaristas veem esses versículos como um encorajamento para os israelitas exilados buscarem a Deus durante todo o período exílico de uma forma espiritual, não cultural, já que não têm mais acesso ao Templo. Mas o fluxo do argumento é mais adequado à interpretação dada aqui: “buscareis” e “achareis” de 29:13 estão mais naturalmente relacionados ao “serei achado” de 29:14. No último versículo, a autorrevelação de Yahweh, sua graciosa decisão de “ser achado” por seu povo, está claramente relacionada ao encerramento do Exílio. Mais uma vez, portanto, a atividade divina exige resposta [humana], não fatalismo; ao mesmo tempo, o chamado e a busca do ser humano não tornam a atividade divina contingente. (Cf. Lv 20:7s.; 22:31s.; 1Rs 8:57ss.)” — D. A. Carson, Soberania Divina e Responsabilidade Humana, p. 32. Vou tirar algumas dúvidas. Poucos, como eu, podem estar acostumados com abreviações como: 29:10s. ou 1Rs 8:57ss.. Essas abreviações significam “seguintes”. Ou seja, refere-se ao versículo 10 e aos versículos subsequentes no mesmo capítulo. O “ss.” é uma variação do “s.” e também significa “seguintes”, mas com um reforço na ideia de uma sequência de versículos mais extensa; às vezes ele pode ser usado para dar ênfase e evitar citar passagens mais longas. Outra dúvida que pode surgir é em relação à palavra ‘contingente’ e seu significado e aplicação. Contingente é algo que está sujeito a condições, que pode ou não acontecer, ou que depende de algo externo para ocorrer. Assim, quando Carson diz que o chamado e a busca do ser humano não tornam a atividade de Deus contingente, ele quer dizer que Deus não está condicionado às decisões humanas, que Deus não depende das ações humanas e que Deus não está sentado em seu alto e sublime trono esperando o que os homens vão fazer para então tentar adequar seus planos redentores às suas ações. Isso faria Deus depender de nossas ações e vontades; tiraria dele sua soberania, enquanto o texto estudado é claro: o homem é chamado a buscar e achar a Deus, mas é Deus quem se faz ser achado! Não é que o homem, sem a causa primária divina, decide buscar a Deus na dúvida se vai achá-lo ou como se Deus estivesse andando por aí e subitamente fosse achado de forma despretenciosa, como se Ele não estivesse esperando! Mas é o próprio Deus quem nos manda buscá-lo de todo o coração (vontade) — não por fatalismo, sem ação e responsabilidade humana —, com a certeza de que Ele está esperando e se permite ser achado. Portanto, a nossa busca por Deus envolve causalidade dupla, soberania divina e responsabilidade humana, onde Deus é a causa primária, chamando e tornando possível a busca e o encontro, enquanto somos a causa secundária, aqueles que ouvem o chamado e o atendem em fé, buscando a Ele e o encontrando. Não há fatalismo nem contingência, mas causalidade dupla. Em sua soberania, Deus nos chama e concede os meios para buscá-lo e achá-lo, e, em nossa responsabilidade, liberdade e fé, nós o procuramos e o encontramos. Graças a Deus! 1604. 11.06.2025. Soli Deo Gloria.