
Autor Ismael Faria
June 17, 2025 at 12:44 AM
A música pulsava nas paredes do lugar como se cada batida do som também fosse um eco do meu coração. Vivian dançava à minha frente, sorrindo daquele jeito que sempre teve — um sorriso que me fazia esquecer que o mundo existia fora dali.
A pista estava cheia, os corpos se encostando sem cerimônia, e o calor subia como vapor de uma febre silenciosa. Mas eu só via ela.
Vivian era linda demais para ser real. Os cabelos castanhos soltos, o vestido preto que moldava suas curvas com perfeição e o jeito como jogava o quadril no ritmo da música — tudo nela gritava liberdade. Desejo. Atrevimento.
— Laura! — gritou no meu ouvido, por cima do som — Você vai só me olhar ou vai dançar comigo?
Sorri. Peguei sua mão e deixei que ela me puxasse mais para o centro da pista. Estávamos perto demais. Eu sentia seu perfume doce com um toque de álcool e suor, tão dela. Vivian dançava colada em mim, seus olhos me desafiando, seus quadris encontrando os meus como se aquilo fosse parte de uma coreografia íntima que só nós conhecíamos.
Não era a primeira vez que dançávamos juntas. Mas era a primeira vez que eu sentia... aquilo. Um calor diferente. Uma vontade que não dava mais para negar.
Ela se aproximou ainda mais, os lábios perigosamente perto da minha orelha.
— Você tá linda hoje, Laurinha... — sussurrou. — Eu devia te roubar pra mim.
Engoli seco. Meus olhos encontraram os dela, e havia um brilho ali que eu nunca tinha visto antes. Ou talvez só não quisesse enxergar.
— Para de brincar — falei, tentando rir.
— Eu não estou brincando.
O mundo ao redor parecia ter desaparecido. Só havia ela, e aquele sorriso malicioso nos lábios. Suas mãos tocaram minha cintura com mais firmeza, e a forma como me puxou me fez perder o equilíbrio. Ou talvez eu só quisesse cair nos braços dela.
Vivian encostou sua testa na minha, os olhos fechados, sentindo o ritmo, sentindo a gente.
— Vem comigo — disse, como se fosse uma ordem sussurrada.
Me deixei levar. Saímos da pista, atravessando o salão cheio de luzes coloridas e gente se beijando em cada canto. Entramos no banheiro feminino, onde outras garotas retocavam a maquiagem ou riam alto demais para notar nossa presença. Vivian me puxou para um dos cantos, perto do espelho, e me encarou.
— Posso? — perguntou.
Não respondi com palavras. Apenas fechei os olhos e deixei que sua boca encontrasse a minha. Foi suave no começo. Depois, urgente. E quando nossos lábios se separaram por um segundo, ela mordeu de leve meu queixo, sorrindo.
— Eu sempre soube que você queria isso.
Eu também soube. Naquela noite, Vivian não era apenas minha amiga. Era a mulher que, sem esforço, me seduzia como se cada passo já tivesse sido planejado por ela.
E quando nossas bocas se separaram outra vez, percebi que não havia mais volta. Naquela noite, eu deixaria Vivian me mostrar tudo o que sempre esteve ali — escondido entre olhares e silêncios.
Vivian me encostou na parede fria com a mesma naturalidade de quem sempre soube o que fazer comigo. Seu corpo colado ao meu, a respiração ofegante entre beijos que já não pediam mais permissão — exigiam.
— Eu esperei por isso mais do que devia — murmurou contra minha boca, descendo os beijos pelo meu pescoço. — E você sabe disso, Laurinha...
Minhas mãos agarravam seus quadris como se meu corpo estivesse tomado por um impulso próprio. Cada toque dela me queimava sob a roupa, me deixava sem forças pra recuar. E eu nem queria recuar.
Vivian ergueu minha perna, encaixando-a entre as suas, e começou a se mover ali mesmo, no ritmo da nossa fome, como se o mundo lá fora tivesse desaparecido. Suas mãos firmes desceram pelas minhas coxas, puxando meu vestido com urgência.
— Aqui mesmo... — ela sussurrou, encarando-me com os olhos mais famintos que eu já tinha visto. — Deixa eu te sentir.
Minhas costas coladas na parede, minha pele arrepiada, minha cabeça leve... eu me entreguei. Seu toque por dentro da minha calcinha foi como eletricidade. Um gemido escapou da minha garganta, abafado por seus lábios que voltaram famintos aos meus.
— Você é tão minha... — ela rosnou, os dedos deslizando entre minhas pernas com uma intimidade que me desmontava.
Cada movimento, cada carícia crua e molhada, me fazia tremer. Vivian me tomava com intensidade, com fome, como se cada segundo ali dentro fosse um risco que ela queria correr — e me levar junto.
Minutos se estendiam como se o tempo tivesse sido arrancado de nós. Eu já não sabia mais onde terminava meu corpo e começava o dela.
Ela gemeu baixinho ao meu ouvido, provocante, me deixando no limite:
— Derrama pra mim, Laura...
E meu ápice veio. Despedaçada em silêncio, mordendo os lábios para não gritar, explodindo sob seus dedos que me invadiam como se fossem feitos pra mim.
Ofegante, encostei minha testa na dela. Sorrimos.
— Essa balada vai marcar a minha vida... — eu disse, quase rindo, ainda sem ar.
Vivian apenas piscou, atrevida.
— E a gente ainda nem saiu daqui.
Vivian ainda me tocava com a ponta dos dedos, mesmo depois do clímax, como se quisesse prolongar minha entrega só mais um pouco. Seu olhar estava fixo no meu, quente, selvagem e cúmplice.
Ela mordeu o lábio inferior, deslizando a mão até meu pescoço, me puxando de volta para um beijo mais calmo, mas não menos intenso. Havia algo ali — uma ternura disfarçada de luxúria — que me desmontava mais que qualquer toque.
— Você é linda quando se rende assim — sussurrou, com um sorriso malicioso.
— E você é perigosa — respondi, entre um beijo e outro. — Mas agora é tarde, né?
Ela riu, uma risada abafada, rouca.
— Tarde demais, Laurinha... você é minha agora.
Nos ajeitamos rapidamente, os corpos ainda trêmulos, as pernas um pouco bambas. As outras garotas no banheiro já tinham saído, e por um instante, parecia que o universo tinha fechado a porta para o mundo, só pra que nós duas existíssemos ali.
Vivian encostou na pia, ajeitando o vestido e os cabelos como quem volta ao jogo depois de vencer uma batalha íntima.
— Quer sair daqui? — ela perguntou, me olhando de lado, com aquele olhar que dizia tudo e mais um pouco.
— Pra onde?
— Pra onde eu puder te tocar de novo... com calma. E com tudo o que eu tô guardando há anos.
Engoli em seco. Meu corpo ainda vibrava dela.
Pegamos nossas bolsas. Os olhos dela diziam que aquela noite não ia acabar ali. Saímos do banheiro com sorrisos de quem tinha acabado de cometer um pecado — e não se arrependia de nada.
Na saída da balada, a noite estava quente, abafada, cheia de promessas. Vivian abriu a porta do carro e esperou eu entrar, mas antes que eu me sentasse, ela me puxou pela cintura, colando nossas bocas mais uma vez.
— Hoje você dorme comigo. Ou melhor... hoje você não vai dormir.
Entramos no carro como duas cúmplices em silêncio. Mas era um silêncio pulsante, feito de olhares e memórias frescas do que acabara de acontecer.
Vivian dirigia com uma mão no volante e a outra sobre minha coxa, os dedos traçando círculos lentos, como se quisesse reacender o que nem sequer esfriou.
— Ainda tá tremendo... — ela disse, sem tirar os olhos da rua.
— Culpa sua.
E minha voz saiu mais rouca do que eu esperava.
Vivian sorriu, apertando de leve minha coxa, me arrepiando de novo.
— Isso é só o começo, Laurinha.
A cidade passava por nós em borrões de luz e sombra, mas meu foco estava nela. Na forma como seu maxilar contraía quando mordia o lábio, no modo como ela trocava as marchas com firmeza, sem perder o controle — nem do carro, nem de mim.
Ela virou para mim em um semáforo, o rosto banhado pela luz vermelha do farol.
— Se a gente cruzou essa linha... não tem mais volta.
— Eu não quero voltar — respondi.
Ela assentiu devagar. O semáforo ficou verde.
E nós seguimos em frente, rumo a uma madrugada onde os limites entre amizade e desejo já tinham sido deixados para trás.
Vivian aumentou o som do carro. Uma batida grave preenchia o espaço entre nós, mas os olhares... esses diziam tudo.
A cada semáforo, ela roubava um toque, um beijo no canto da boca, uma mordida leve no ombro exposto do meu vestido.
— Quando eu fechar a porta do meu quarto... — disse, sem sorrir — ...não vai mais ter amiga. Nem freio. Nem dúvida.
Meu peito se apertou e meu corpo vibrou só de ouvir.
Eu sabia.
Naquela madrugada, não seríamos mais duas garotas se divertindo numa balada. Seríamos duas mulheres se consumindo sem medo, sem desculpa.
Seríamos desejo em carne viva.
Autor Ismael Faria
DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS
LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.
