
Genuínos Ortodoxos no Brasil
May 31, 2025 at 09:45 AM
*São Barsanúfio de Óptina (1845–1913)*
> "Outro dia, um dos nossos monges do Grande Esquema do skete veio me ver.
— Abba, caí em desânimo, pois não vejo em mim — aquele que porta o elevado hábito angélico — uma mudança para melhor. O Senhor exige rigorosamente se alguém é monge ou esquemamonge apenas de acordo com sua vestimenta. Mas como posso mudar? Como posso morrer para o pecado? Sinto minha total fraqueza.
— Sim — respondi — somos absolutamente falidos, e se o Senhor julgar segundo as obras, não encontrará nada de bom em nós.
— Mas há esperança de salvação, então?
— Claro que há. Diga sempre a Oração de Jesus, e entregue tudo à vontade de Deus.
— Mas que tipo de benefício pode haver dessa oração se nem a mente nem o coração participam dela?
— Um benefício enorme. Claro, essa oração tem muitos níveis, desde a simples pronúncia até a oração criativa. Mas para nós, mesmo que estejamos no degrau mais baixo, ela será salvífica. As potências do inimigo fogem daquele que pronuncia essa oração, e cedo ou tarde ele será salvo, de qualquer forma.
— Eu ressuscitei! — exclamou o monge do Grande Esquema. — Não ficarei mais desanimado.
E assim eu repito: diga a oração, mesmo que apenas com os lábios, e o Senhor nunca o abandonará. A pronúncia dessa oração não exige o estudo de nenhuma ciência. O conde Liev Tolstói era um homem de educação completa, mas não tinha Cristo na alma — e pereceu. O conhecimento terreno não o ajudou. Ele rejeitou a Santa Igreja — e foi rejeitado."
(Elder Barsanuphius of Optina, pp. 454–456)
Este diálogo entre São Barsanúfio de Óptina e um monge do Grande Esquema revela com profunda simplicidade a realidade espiritual que todos os cristãos enfrentam: o peso da própria fraqueza diante da santidade de Deus. O monge, embora revestido do hábito mais elevado da vida monástica, sente-se vazio e impotente para vencer o pecado — uma experiência comum entre aqueles que lutam seriamente pela salvação.
A resposta de São Barsanúfio é marcada por humildade e esperança. Ele não tenta encobrir a verdade da miséria humana, mas a reconhece: estamos “absolutamente falidos”, sem méritos próprios diante de Deus. Contudo, ele aponta imediatamente para a misericórdia divina, ensinando que a salvação não está em nossas forças, mas na graça de Deus, acessível por meio da Oração de Jesus: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador.”
Mesmo que essa oração seja feita apenas com os lábios, sem o envolvimento do coração ou da mente, ela já é suficiente para afastar os demônios e sustentar a alma. O Santo reconhece que há diversos níveis nessa oração — desde a simples repetição até a oração viva e iluminada — mas assegura que, mesmo no nível mais humilde, ela é salvífica. Com isso, ele consola o monge, que passa do desânimo à exultação: “Eu ressuscitei!”
Por fim, São Barsanúfio adverte que nem todo conhecimento humano conduz à salvação. Usa como exemplo o conde Tolstói, homem instruído, mas que rejeitou a Igreja e, com isso, perdeu a comunhão com Cristo. Assim, ele ensina que a verdadeira sabedoria está na humildade, na fidelidade à Igreja e na oração contínua.
Este breve diálogo é um verdadeiro ícone da espiritualidade ortodoxa: realista quanto à fraqueza humana, centrado na graça de Deus, e profundamente enraizado na tradição da oração do coração.

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