*A Perseverança na Luta: Esperança Mesmo Após Múltiplas Quedas* Na vida espiritual, uma das maiores provações enfrentadas pelos cristãos é a luta constante contra as paixões. Muitas vezes, caímos repetidamente nos mesmos pecados, nas mesmas fraquezas que nos escravizam há anos — sejam elas a ira, a gula, a impureza, o orgulho ou a vaidade. Essa repetição leva muitos a um profundo abatimento interior, a uma tristeza paralisante e até ao desejo de desistir do combate espiritual, julgando que não há mais esperança de vencer. Porém, a Igreja Ortodoxa, com sua sabedoria milenar, nos ensina que a perseverança na luta é mais preciosa do que uma vitória rápida e sem dor. O caminho da salvação não é o da perfeição instantânea, mas o da fidelidade contínua, mesmo entre lágrimas, tropeços e humilhações. O Senhor vê o nosso coração, e não apenas os resultados visíveis. Como disse São Marcos, o Asceta: > “Aos olhos de Deus, é mais valioso aquele que, mesmo caindo, se levanta e luta, do que aquele que não caiu porque não combateu.” Muitos santos caíram inúmeras vezes antes de alcançar a sobriedade e a paz interior. São Moisés, o Etíope, foi atormentado por tentações terríveis mesmo após sua conversão, e ainda assim perseverou com fé, jejum e oração. Santo André de Creta afirma com clareza no Grande Cânon: > “Sou ferido, mas não desisto; fui abatido, mas volto à batalha, porque Tu, ó Cristo, és a minha força.” A tentação de desistir vem do inimigo, que sussurra que Deus se cansou de perdoar, que é inútil continuar. Mas isso é uma mentira. O Senhor mesmo disse a São Pedro que deve-se perdoar "até setenta vezes sete" (Mt 18,22). Como poderia Deus, fonte de misericórdia, exigir de nós uma medida de perdão que Ele mesmo não nos concederia? São João Clímaco escreve: > “Satanás se alegra mais com o desânimo após a queda do que com a queda em si. Pois se, após cair, o homem se levanta e recorre a Deus com humildade, ele se torna mais forte do que antes.” Portanto, mesmo que sejamos vencidos hoje, não devemos permitir que o desânimo nos imobilize. Cada nova tentativa é um ato de fé, um testemunho de amor a Deus. A vitória pode não ser imediata, mas ela será concedida àquele que perseverar com humildade. É preciso confiar que o próprio Senhor está ao nosso lado na batalha, não como um juiz severo que se apressa em condenar, mas como um médico compassivo que conhece a gravidade da doença e valoriza cada esforço de cura. Perseverar na luta contra as paixões, mesmo quando escravizados por anos, é um testemunho de que confiamos mais na graça de Deus do que em nossas próprias forças. E essa confiança, mantida com lágrimas, oração e arrependimento sincero, salvará nossa alma. Pois como canta a Igreja em seus hinos: > “Com as lágrimas do arrependimento, lavemos as manchas da nossa alma, pois o Senhor é compassivo e não rejeita o coração contrito.” Não desistamos. O Senhor está próximo dos que O buscam com sinceridade, mesmo que ainda carreguem correntes. Ele é poderoso para libertar, e o tempo da libertação virá — para aqueles que, entre quedas e lágrimas, continuam a amar e a confiar.