• Geografia do Desejo O prazer, meu amor, não tem endereço. É clandestino como um beijo roubado, um murmúrio entre estantes de uma biblioteca, onde as palavras, cúmplices, se calam. Na cozinha, o vapor não vem só do fogão. A colher desliza como tua mão na cintura, a mesa é palco de uma dança interrompida, enquanto o sal não sabe se vem do suor ou do mar. Elevadores são confessionários do proibido. Botões apertados, corpos mais ainda, e o breve silêncio entre andares é um convite ao desatino. No estacionamento, as luzes piscam como testemunhas disfarçadas. Entre ferros e cimento, a carne descobre sua fragilidade em ser tão viva. E no escritório, o fetiche do inesperado: papéis voam, como nossas defesas. A gravata vira nó nas costas, a cadeira range como quem aprova. Te amo nos cantos onde não cabe o pudor, onde o riso escapa entre suspiros e o mundo, oh, o mundo, se torna pequeno demais para conter a vastidão do nosso querer. - Francisco Mariano Júnior #poetizando #versando